segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

EÇA, UMA PEÇA, VÁRIOS PROTAGONISTAS



Eça de Queirós foi um dos maiores génios, se não o maior, da literatura portuguesa. À visão superior do mundo, aliava o mais brilhante estilo a que não se pode ficar insensível. Os seus melhores textos são as crónicas, sem dúvida - Correspondência de Fradique Mendes e Cartas de Inglaterra no topo. O excerto transcrito a seguir é do segundo livro e descreve um daqueles retratos de feira onde os clientes metem a cabeça e são fotografados todos no mesmo cenário - figurantes diferentes, sempre a mesma peça. Primeiro com ingleses; depois americanos mais meio mundo; o mundo todo no próximo episódio.

Os ingleses estão experimentando, no seu atribulado império da Índia,a verdade desse humorístico lugar comum do sec. XVIII: 'A História é uma velhota que se repete sem cessar'.
O Fado e a Providência, ou a Entidade qualquer que lá de cima dirigiu os episódios da campanha do Afeganistão em 1847, está fazendo simplesmente uma cópia servil, revelando assim uma imaginação exausta.
Em 1847 os ingleses, "por uma Razão de Estado, uma necessidade de fronteiras científicas, a segurança do império, uma barreira ao domínio russo da Ásia..." e outras coisas vagas que os políticos da Índia rosnam sombriamente, retorcendo os bigodes - invadem o Afeganistão, e aí vão aniquilando tribos seculares, desmantelando vilas, assolando searas e vinhas: apossam-se, por fim, da santa cidade de Cabul; sacodem do serralho um velho emir apavorado; colocam lá outro de raça mais submissa, que já trazem preparado nas bagagens, com escravas e tapetes; e, logo que os correspondentes dos jornais têm telegrafado a vitória, o exército, acampado à beira dos arroios e nos vergéis de Cabul, desaperta o correame, e fuma o cachimbo da paz... Assim é exactamente em 1880.
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