Darwin, já aqui citado ene vezes, considerava as espécies actuais descendentes de antecessores diferentes que se haviam modificado por processos de selecção condicionados pelo meio ambiente. Admitia três formas de selecção: a natural, a artificial e a sexual.Da primeira já falámos demais. Resulta do apuramento da espécie através da multiplicação dos exemplares mais preparados para enfrentar o ambiente e da extinção gradual dos menos preparados.
A selecção artificial é induzida pela acção do homem, ao promover a multiplicação de plantas e animais que lhe são úteis para a alimentação, para o trabalho, ou como companheiros. Para Darwin esta era uma variante de selecção natural sem a importância que lhe é atribuída hoje, porque vivemos na era de
engenharia genética e dos alimentos transgénicos.Finalmente, a selecção sexual é a que resulta de factores que intervêm no acasalamento, quando a reprodução é sexuada. Depende da atracção que o macho exerce sobre as fêmeas, da sua capacidade de concorrer com os outros machos na conquista da parceira sexual, e da preferência das fêmeas por este ou aquele tipo de cara-metade.
A selecção artificial, por ser aquela que produz efeitos mais rapidamente visíveis, podendo fazê-lo no espaço de uma ou duas gerações, é a que mais fascina os estudiosos da evolução. E também porque compreende um fenómeno particularmente grato ao homem que é o ser domesticado. Esclareça-se que domesticar não é domar, que se aplica a um exemplar único da espécie. A qualidade de domado morre com o ser porque não tem substrato genético e não é transmitida à descendência. A qualidade de domesticado tem formatação genética e é herdada.
A história dos seres domesticados é matéria das mais interessantes da Biologia.
No princípio, era o mundo dos seres exclusivamente selvagens. Depois, surgiram os que conviviam mediocremente com o homem por motivos os mais estranhos e variados possível – desde a caça ao rato nos celeiros, até à companhia nas longas horas de isolamento. A seguir, foram escolhidos por este os que se revelavam mais úteis, por uma razão ou outra. Por fim, multiplicaram-se exponencialmente padrões morfo-comportamentais de domesticidade que provavelmente correspondem a uma minoria antecessora já extinta há muito tempo, não fosse a mão do homem a ampará-la e a apaparicá-la.A verdade é que essas formas ou variedades domésticas mantêm o genotipo próprio dos antecessores selvagens, quando estes ainda existem. É possível cruzarem-se e procriarem em conjunto, por exemplo. Mas do ponto de vista fenotípico, que é a forma como se exprime o património genético ou genotipo, são completamente diferentes. Tão diferentes que os domésticos já teriam desaparecido, tão incapazes de fazer pela vida se tornaram. É o gato que não caça ratos, o cão que ladra e não morde, o boi que não marra no dono quando é picado, ou o periquito que morre de fome se é abandonado por quem o mantém no cativeiro da gaiola. Criámos uma boa série de seres biologicamente inferiores, sim senhor!...
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