terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A INCAPACIDADE DO LULU E DO TARECO



Darwin, já aqui citado ene vezes, considerava as espécies actuais descendentes de antecessores diferentes que se haviam modificado por processos de selecção condicionados pelo meio ambiente. Admitia três formas de selecção: a natural, a artificial e a sexual.
Da primeira já falámos demais. Resulta do apuramento da espécie através da multiplicação dos exemplares mais preparados para enfrentar o ambiente e da extinção gradual dos menos preparados.
A selecção artificial é induzida pela acção do homem, ao promover a multiplicação de plantas e animais que lhe são úteis para a alimentação, para o trabalho, ou como companheiros. Para Darwin esta era uma variante de selecção natural sem a importância que lhe é atribuída hoje, porque vivemos na era de engenharia genética e dos alimentos transgénicos.
Finalmente, a selecção sexual é a que resulta de factores que intervêm no acasalamento, quando a reprodução é sexuada. Depende da atracção que o macho exerce sobre as fêmeas, da sua capacidade de concorrer com os outros machos na conquista da parceira sexual, e da preferência das fêmeas por este ou aquele tipo de cara-metade.
A selecção artificial, por ser aquela que produz efeitos mais rapidamente visíveis, podendo fazê-lo no espaço de uma ou duas gerações, é a que mais fascina os estudiosos da evolução. E também porque compreende um fenómeno particularmente grato ao homem que é o ser domesticado. Esclareça-se que domesticar não é domar, que se aplica a um exemplar único da espécie. A qualidade de domado morre com o ser porque não tem substrato genético e não é transmitida à descendência. A qualidade de domesticado tem formatação genética e é herdada.
A história dos seres domesticados é matéria das mais interessantes da Biologia. No princípio, era o mundo dos seres exclusivamente selvagens. Depois, surgiram os que conviviam mediocremente com o homem por motivos os mais estranhos e variados possível – desde a caça ao rato nos celeiros, até à companhia nas longas horas de isolamento. A seguir, foram escolhidos por este os que se revelavam mais úteis, por uma razão ou outra. Por fim, multiplicaram-se exponencialmente padrões morfo-comportamentais de domesticidade que provavelmente correspondem a uma minoria antecessora já extinta há muito tempo, não fosse a mão do homem a ampará-la e a apaparicá-la.
A verdade é que essas formas ou variedades domésticas mantêm o genotipo próprio dos antecessores selvagens, quando estes ainda existem. É possível cruzarem-se e procriarem em conjunto, por exemplo. Mas do ponto de vista fenotípico, que é a forma como se exprime o património genético ou genotipo, são completamente diferentes. Tão diferentes que os domésticos já teriam desaparecido, tão incapazes de fazer pela vida se tornaram. É o gato que não caça ratos, o cão que ladra e não morde, o boi que não marra no dono quando é picado, ou o periquito que morre de fome se é abandonado por quem o mantém no cativeiro da gaiola. Criámos uma boa série de seres biologicamente inferiores, sim senhor!...

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