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[...] O primeiro episódio oriental que eu vi, ao desembarcar há doze anos em Alexandria, foi este: no cais da alfândega, faiscante sob a luz tórrida, um empregado europeu – europeu pelo tipo, pela sobrecasaca, sobretudo pelo boné agaloado – estava arrancando a pele das costas de um árabe, com aquele chicote de nervo de hipopótamo que lá chamam curbaxe e que é no Egipto o símbolo oficial da autoridade.
Em redor, sem que esse espectáculo parecesse desusado ou escandaloso, alguns árabes transportavam fardos; outros empregados agaloados, de chicote na mão, davam ordens por entre o fumo do cigarro...
Saciado ou cansado, o homem do curbaxe, que era um magrizela, atirou um derradeiro pontapé à anatomia posterior do árabe – como quem, ao fim de um período escrito com verve, assenta vivamente o seu ponto final – e, voltando-se para o meu companheiro e para mim, ofereceu-nos, de boné na mão, os seus respeitosos serviços. Era um italiano, e encantador. A esse tempo o árabe (como quase todos os felás, um soberbo homem de formas esculturais), depois de se ter sacudido como um terra-nova ao sair da água, fora-se agachar a um canto, com os olhos luzentes como brasa, mas quieto e fatalista, pensando decerto que Alá é grande nos céus e necessário na Terra o curbaxe do estrangeiro. [...]
Em redor, sem que esse espectáculo parecesse desusado ou escandaloso, alguns árabes transportavam fardos; outros empregados agaloados, de chicote na mão, davam ordens por entre o fumo do cigarro...
Saciado ou cansado, o homem do curbaxe, que era um magrizela, atirou um derradeiro pontapé à anatomia posterior do árabe – como quem, ao fim de um período escrito com verve, assenta vivamente o seu ponto final – e, voltando-se para o meu companheiro e para mim, ofereceu-nos, de boné na mão, os seus respeitosos serviços. Era um italiano, e encantador. A esse tempo o árabe (como quase todos os felás, um soberbo homem de formas esculturais), depois de se ter sacudido como um terra-nova ao sair da água, fora-se agachar a um canto, com os olhos luzentes como brasa, mas quieto e fatalista, pensando decerto que Alá é grande nos céus e necessário na Terra o curbaxe do estrangeiro. [...]
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Eça de Queirós in “Cartas de Inglaterra”
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