terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A HUBLOT E A SALOIADA

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No ano passado, a fabricante suíça Hublot exibiu numa exposição de joalharia um relógio de pulso encrustado com 1.282 diamantes, decoração que ocupou 17 especialistas durante 14 meses. Custava mais de 3,6 milhões de euros.
E então? Então é burrice, está bom de ver. Para usar uma pessegada assim, é preciso andar acompanhado de escolta armada e as horas são iguais às de qualquer "cebola"—saloiada; aí está o que é.
A finalidade do relógio é dar-nos a noção do tempo que passa, ou pensamos que passa—provavelmente não passa, talvez até não exista tempo, mas isso não interessa agora. Na prática quotidiana nunca precisamos de acuidade maior que um minuto e, mesmo que o relógio se adiante ou atrase alguns segundos por dia, basta acertá-lo uma vez por semana. Mas ainda que a precisão fosse importante, a pergunta é: será este relógio de milhões mais preciso que um relógio do chinês?
Um investigador do "National Institute of Standards and Technology" dos Estados Unidos usou sofisticado equipamento científico para avaliar quatro relógios baratos, incluindo um Rolex® comprado num vendedor de rua por 15 dólares (± 11 euros). Todos eram inesperadamente precisos, com desvios de milésimos de segundo por dia.
Sendo assim, relógios mais caros só se justificam por razões especiais. Mesmo que durem mais, não compensam—a substituição sucessiva por baratos sai sempre mais económica, se descontarmos a inflação. A preferência por relógios caros explica-se apenas por razões estéticas, por constituírem símbolos de status social, ou pela versatilidade—há máquinas com cronómetro, com GPS para avaliar a distância e a velocidade da corrida, com medidor da frequência cardíaca, com capacidade de previsão meteorológica e por aí fora, mas a quem interessa verdadeiramente isso? A uma minoria.
A dificuldade é perceber a facilidade com que se fazem relógios de quartzo baratos e precisos. Do ponto de vista tecnológico são todos iguais, ou quase. Mas levará muitos anos até que a Hublot deixe de ter clientes. O homem é um animal racional, mas pouco.

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