No ano passado, a fabricante suíça Hublot exibiu numa exposição de joalharia um relógio de pulso encrustado com 1.282 diamantes, decoração que ocupou 17 especialistas durante 14 meses. Custava mais de 3,6 milhões de euros.
E então? Então é burrice, está bom de ver. Para usar uma
pessegada assim, é preciso andar acompanhado de escolta armada e as horas são
iguais às de qualquer "cebola"—saloiada; aí está o que é.
A finalidade do relógio é dar-nos a noção do tempo que
passa, ou pensamos que passa—provavelmente não passa, talvez até não exista
tempo, mas isso não interessa agora. Na prática quotidiana nunca precisamos de
acuidade maior que um minuto e, mesmo que o relógio se adiante ou atrase alguns
segundos por dia, basta acertá-lo uma vez por semana. Mas ainda que a precisão
fosse importante, a pergunta é: será este relógio de milhões mais preciso que um
relógio do chinês?
Um investigador do "National Institute of Standards
and Technology" dos Estados Unidos usou sofisticado equipamento científico
para avaliar quatro relógios baratos, incluindo um Rolex® comprado num vendedor
de rua por 15 dólares (± 11 euros). Todos eram inesperadamente precisos, com
desvios de milésimos de segundo por dia.
Sendo assim, relógios mais caros só se justificam por
razões especiais. Mesmo que durem mais, não compensam—a substituição sucessiva
por baratos sai sempre mais económica, se descontarmos a inflação. A preferência por relógios caros explica-se apenas por razões estéticas, por
constituírem símbolos de status social, ou pela versatilidade—há máquinas com
cronómetro, com GPS para avaliar a distância e a velocidade da corrida, com
medidor da frequência cardíaca, com capacidade de previsão meteorológica e por
aí fora, mas a quem interessa verdadeiramente isso? A uma minoria.
A dificuldade é perceber a facilidade com que se fazem
relógios de quartzo baratos e precisos. Do ponto de vista tecnológico são todos
iguais, ou quase. Mas levará muitos anos até que a Hublot deixe de ter
clientes. O homem é um animal racional, mas pouco.
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