sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

MALTHUS: SE NÃO FORDES CASTOS, SEDE CAUTOS

Thomas Robert Malthus procupava-se. Ficou mesmo na História por se preocupar. Além das consumições decorrentes da família, do seu rebanho paroquial – era pastor anglicano – e da carestia da vida, com que se preocupava um nadinha, preocupava-se sobretudo com o aumento da população mundial porque não via meio de dar de comer a tanta gente. Achava que o povão se multiplicava em progressão geométrica e a comidinha em progressão aritmética. Não tardaria o dia da maior fome, do crime e das guerras movidas pela sobrevivência, das doenças incontroladas e de todas as calamidades.
O desespero era tanto, que se lembrou de sugerir o controlo da natalidade pelo retardar dos casamentos e pela abstinência sexual dos solteiros e dos casados com mais filhos que o razoável. E, para diminuir a população, a não prestação de assistência médica e social.
Neste momento, o malthusianismo calhava muito bem em Portugal para diminuir o défice público.
Mas a teoria de Malthus tinha pés e cabeça nos séculos XVIII e XIX em que viveu. Havia, efectivamente, uma explosão demográfica que se manteve muitos anos e a agricultura mantinha práticas mais ou menos bíblicas. Pertencemos a uma geração que, pela primeira vez na história do planeta, viu duplicar a população mundial no espaço de uma vida, ultrapassando os 6 mil milhões.
Mas a Demografia não é uma ciência exacta e, como em todos os ramos da Ciência, a verdade é verdade até deixar de o ser. E o crescimento da população mundial abrandou e esta não vai seguramente ultrapassar nunca os dez mil milhões. Provavelmente, vai diminuir até ao final do Século.
Perguntar-se-á porque aconteceu este abrandamento demográfico. Paradoxalmente, foi causado por aquilo que os malthusianos mais receavam: a melhoria económica dos povos. Segundo eles, o aumento da prosperidade traria aumento da dimensão das famílias até chegar ao insustentável, o que tinha lógica. Mas a lógica é um mecanismo mental do Homo sapiens muito falível. A melhoria económica das populações provocou o fenómeno da sua urbanização maciça, com a mulher a trabalhar, a ser também cabeça activa na sociedade e a fazer opções nesta e na família. E passou a procriar menos. Outras razões existem, mas esta é das mais importantes. São os povos mais atrasados que mais se reproduzem.
Por outro lado, a agricultura transfigurou-se: abandonou práticas arcaicas e adoptou técnicas inspiradas na indústria. A mecanização, os novos métodos de irrigação, os adubos, o combate às pragas, e por aí fora, deram o que está à vista. Infelizmente com excesso de produção em alguns países e fome noutros. Mas isso não é culpa da actividade agrária, mas sim dos políticos que, na falta de fazer qualquer coisa, praticam a asneira com competência.

Malthus morreu preocupado sem razão. Não sei onde está e se pode perceber o que se passa. Se sim deve estar a respirar aliviado. Se não, está preocupado há mais de 200 anos.

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