sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

NA PRÁTICA A TEORIA É OUTRA

Esta é a tradução da resposta enviada pelo ministro canadiano da Defesa a uma boa alma que se queixava da sorte reservada aos “combatentes” afegãos, prisioneiros nos centros de detenção do Afeganistão.

Ministério da Defesa Nacional
Mgen George R. Pearks Bldg, 15 NT
101 Colonel By Drive
Ottawa, ON K1A OK2
Canada

Cara Cidadã Inquieta,

Obrigado pela sua carta exprimindo profunda inquietação pela sorte dos terroristas da Al Qaeda capturados por forças canadianas, transferidos para a custódia do governo afegão e presentemente detidos nos centros nacionais de reagrupamento de prisioneiros.
A nossa administração considera muito a sério este assunto e a vossa mensagem é considerada importante e clara aqui em Otava. Ficareis contente por saber que, graças ao contributo de cidadãos como vós, criámos um novo departamento no seio da Defesa Nacional, que será chamado PLARA, ou seja, “Programa dos Liberais que Assumem a Responsabilidade por Assassinos”.
De acordo com as directivas deste novo programa, decidimos escolher um terrorista e colocá-lo sob a vossa vigilância pessoal. O detido foi seleccionado e será conduzido sob escolta fortemente armada até ao vosso domicílio em Toronto, a partir da próxima segunda-feira.
Ali Mohammed Ahmed bin Mahmud (pode tratá-lo simplesmente por Ahmed) ficará a vosso cargo segundo as normas que exigistes na carta de reclamação. Será provavelmente necessário recorrer à colaboração de assistentes. Faremos inspecções semanais a fim de nos assegurarmos que Ahmed goza de todos os cuidados que recomendais com tanta firmeza na vossa carta.
Pese o facto de Ahmed ser um psicopata extremamente violento, esperamos que a vossa sensibilidade para o que chamais de “problema comportamental” vos ajudará a ultrapassar as suas perturbações de carácter. Tendes talvez razão quando descreveis estes problemas como simples diferenças culturais.
Compreendemos a vossa intenção de lhe dar conselhos e educação domiciliária. O vosso terrorista adoptado é extremamente eficaz nas disciplinas de combate corpo-a-corpo e pode pôr termo a uma vida com objectos simples, como um lápis ou um corta-unhas. Aconselhamos a não lhe pedir para fazer uma demonstração na vossa próxima sessão de yoga.
É igualmente perito em explosivos e pode fabricá-los a partir de objectos de limpeza doméstica. Recomendamos a mantê-los fechados à chave, a menos que tal (segundo a vossa opinião) possa ofendê-lo.
Ahmed não procurará manter relações convosco ou com as vossas filhas (excepto sexualmente), na medida em que considera as mulheres uma espécie sub-humana. É matéria particularmente sensível para ele, conhecido por ter reacções violentas contra mulheres que não observam critérios de vestuário apropriados. Estou convencido que, com o tempo, vireis a apreciar o anonimato que a burkha oferece. Recordai que isto faz parte do respeito pelas crenças religiosas de que falais na vossa carta.
Obrigado, mais uma vez, pela vossa preocupação. Apreciamos verdadeiramente que cidadãos como vós nos indiquem a melhor maneira de fazer o nosso trabalho e de nos ocuparmos dos nossos semelhantes.
Tomai bem conta de Ahmed e lembrai-vos que observamos o vosso caso.
Boa sorte e que Deus vos abençoe.

Cordialmente,

Gordon O’Connor

A respeito desta carta, vale a pena citar Soljenitsyne quando dizia, em 1978, na Universidade de Harvard: E que dizer dos espaços sombrios onde se move a criminalidade propriamente dita? Os quadros jurídicos, muito latos, principalmente na América, são para o indivíduo não só um encorajamento ao exercício da sua liberdade, mas também uma incitação a cometer certos crimes que oferecem ao criminoso a possibilidade de escapar ao castigo ou de beneficiar de uma indulgência imerecida, graças ao apoio de um milhar de vozes que se elevarão a seu favor. E quando num país os poderes públicos tentam desenraizar vigorosamente o terrorismo, a opinião acusa-os logo de espezinhar os direitos cívicos dos bandidos.

Soljenitsyne era um reaccionário; está na cara!

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