sábado, 2 de abril de 2011

O ESTILO GONGÓRICO

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Já não tendes, portugueses, a Índia, nem Ormuz, nem Malaca, nem Ceilão. Nem ao menos vos deixaram como padrão aquele cabo Tormentório, cujas borrascas temerosas vos não entibiaram, que não fôsseis adiante ensinar à indolente cristandade os caminhos tenebrosos do Oceano. Não são vossos os domínios materiais. Embora. Naqueles mesmos territórios, onde agora florecem e dominam estrangeiros moradores, lá está sempre o vosso nome. É deles o que é da terra, mas é vosso unicamente o que se não pode aniquilar, porque é incorpóreo e imortal. É deles a riqueza, o poder, o senhorio. Mas será sempre vossa a glória. Partindo aventurosos e resolutos desde os últimos confins da Europa ocidental, cursastes os oceanos ainda virginais, onde tomastes o ronco estridor das tempestades pelo hino triunfal das esplêndidas vitórias. Abristes as portas do Oceano, e dissestes às demais nações da Europa: «Despertai da sonolência medieva, e entrai após os meus navegadores.» A velha cristandade fantasiava o mundo nos fabulados portulanos. E vós, estendendo aos vossos pés a terra inteira, como se fora ainda pequeno mapa, estudastes a geografia, sulcando as linhas nas águas com as vossas quilhas venturosas, entalhando-as na terra com o ferro vencedor.
Isto diz, mas em carmes inspirados e em divinas modulações, o imortal cantor dos feitos pátrios. É a voz da glória, que ressoa perpetuamente, vibrada pela tuba do máximo poeta e do mais ardente e devotado português. São os Lusíadas. É o Camões.
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Latino Coelho in “Panegírico de Luís de Camões”
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