terça-feira, 24 de abril de 2012

O RECTÂNGULO LUSITANO

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Quando se observa o retalho da Península, de que a história fez Portugal, separado do corpo geográfico a que pertence, desde logo se vê como a vontade dos homens pôde sobrepujar as tendências da natureza. Os rios e as serranias descem, perpendiculares sobre a costa ocidental, prosseguindo uma derrota e provindo de uma origem que se dilatam para muito além das fronteiras, até ao coração do corpo peninsular. As cumeadas das montanhas e os vales extensos mudam de nacionalidade naquele ponto convencional que aos homens aprouve fixar.
Não falta, porém, quem pretenda encontrar, no nosso próprio território, motivos determinantes da constituição primordial da nação: tanto pode a obcecação doutrinária! Diz um que essa separação dos litorais é uma regra; nega outro o carácter arbitrário da linha das fronteiras de leste, afirmando que essa linha coincide com os limites extremos até onde os nossos rios são navegáveis. Decerto nunca os viu quem tal afirma. No Guadiana apenas se navega até Serpa, e entretanto o rio é português nas duas margens até Monsaraz, formando a raia daí até Elvas. O Douro para cima da Régua é tão navegável até Zamora como até à Barca-d'Alva. No Tejo, passando Abrantes, tanto se vai até Alcântara, como até Aranjuez. Onde está pois a concordância da fronteira com a parte navegável dos rios?
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Oliveira Martins in "História de Portugal"
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