Juvenal, o poeta, escreveu
um dia rara avis in terris nigroque
simillima cygno, significando tal qualquer coisa como "ave rara na
terra como um cisne negro". Com o tempo, a expressão cisne negro transformou-se
em equivalente àquilo que não existe. E, embora o explorador holandês Willem
Vlamingh tenha descoberto cisnes negros na Austrália em 1697, o cliché manteve-se, embora com uma nuance—cisne negro é hoje o facto com baixa probabilidade,
impacto extremo e só retrospectivamente previsível.
O conceito enche a História
e revela-se constante social, filosófica, científica, tecnológica, religiosa
até. Há 15 anos, por exemplo, era
impensável trocar a infraestrutura das telecomunicações para essa coisa nova chamada
Internet. E em 2000, quem arriscaria dizer que, em 2010, na Índia, haveria mais
do dobro de pessoas com telemóveis que com latrinas?
Os hábitos, estilos de
vida, tecnologias populares, perfis de consumo, comportamentos colectivos e por
aí fora são fonte constante de cisnes negros só retrospectivamente previsíveis, com impacto extremo e inesperada probabilidade.
Serve esta conversa chocha
para dizer que os profetas do apocalipse são quase sempre surpreendidos por cisnes
negros. Já aconteceu com a máquina a vapor e muitas outras coisas. E todas as
tentativas contemporâneas para resolver o alegado problema do aquecimento
global antropogénico, muito provavelmente nos vão parecer caricatas no dia em
que o génio humano dê à luz um cisne negro energético mais inesperado que a
actual relação telemóveis/latrinas na Índia.
A História está cheia de
histórias de profetas do apocalipse cujas propostas de solução nunca resolveram
coisa nenhuma. Estamos a assistir a isso neste preciso momento com o carbono. É
muito improvável—diz-nos a experiência—que medidas carentes de grandes mudanças
de hábitos adquiridos tenham sucesso. Decorre isso da natureza do Homo sapiens
e a natureza não se deixa moldar facilmente. O que precisamos mesmo é de senso,
realismo, uma boa dose de filosofia e astúcia—muita astúcia—para
darmos a volta ao problema. E daremos—da mesma forma que a Internet virou as
telecomunicações de cangalhas sem que ninguém esperasse e o homem comum se
apercebesse.
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