quarta-feira, 18 de junho de 2014

À ESPERA DO CISNE NEGRO DA ENERGIA

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Juvenal, o poeta, escreveu um dia rara avis in terris nigroque simillima cygno, significando tal qualquer coisa como "ave rara na terra como um cisne negro". Com o tempo, a expressão cisne negro transformou-se em equivalente àquilo que não existe. E, embora o explorador holandês Willem Vlamingh tenha descoberto cisnes negros na Austrália em 1697, o cliché manteve-se, embora com uma nuance—cisne negro é hoje o facto com baixa probabilidade, impacto extremo e só retrospectivamente previsível.
O conceito enche a História e revela-se constante social, filosófica, científica, tecnológica, religiosa até. Há 15 anos, por exemplo,  era impensável trocar a infraestrutura das telecomunicações para essa coisa nova chamada Internet. E em 2000, quem arriscaria dizer que, em 2010, na Índia, haveria mais do dobro de pessoas com telemóveis que com latrinas? 
Os hábitos, estilos de vida, tecnologias populares, perfis de consumo, comportamentos colectivos e por aí fora são fonte constante de cisnes negros só retrospectivamente previsíveis, com impacto extremo e inesperada probabilidade.
Serve esta conversa chocha para dizer que os profetas do apocalipse são quase sempre surpreendidos por cisnes negros. Já aconteceu com a máquina a vapor e muitas outras coisas. E todas as tentativas contemporâneas para resolver o alegado problema do aquecimento global antropogénico, muito provavelmente nos vão parecer caricatas no dia em que o génio humano dê à luz um cisne negro energético mais inesperado que a actual relação telemóveis/latrinas na Índia.
A História está cheia de histórias de profetas do apocalipse cujas propostas de solução nunca resolveram coisa nenhuma. Estamos a assistir a isso neste preciso momento com o carbono. É muito improvável—diz-nos a experiência—que medidas carentes de grandes mudanças de hábitos adquiridos tenham sucesso. Decorre isso da natureza do Homo sapiens e a natureza não se deixa moldar facilmente. O que precisamos mesmo é de senso, realismo, uma boa dose de filosofia e astúcia—muita astúcia—para darmos a volta ao problema. E daremosda mesma forma que a Internet virou as telecomunicações de cangalhas sem que ninguém esperasse e o homem comum se apercebesse.
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