sábado, 21 de junho de 2014

POLITICAMENTE CORRECTO

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Thomas Szasz era húngaro, judeu e imigrado nos Estados Unidos onde estudou Medicina e se tornou psiquiatra. Ficou conhecido pela ideia expressa num livro publicado em 1961 e intitulado The Myth of Mental Illness: Foundations of a Theory of Personal Conduct.  Nele defende a polémica teoria de que não há doenças mentais, sendo a Psiquiatria um instrumento da sociedade para colocar em quarentena quem lhe parece oferecer perigo. Diz  assim a páginas tantas:

"A Psiquiatria é definida convencionalmente como especialidade médica  que diagnostica e trata as doenças mentais. Esta definição, ainda geralmente aceite, dá-lhe a qualidade de pseudociência e coloca-a na companhia da alquimia e da astrologia. A razão é que não há essa coisa chamada doença mental".

E mais adiante:

"Estar errado pode ser perigoso; mas ter razão quando a sociedade considera verdade  o erro da maioria pode ser fatal. Este princípio é especialmente válido quando respeita a falsas verdades que fazem parte do sistema de crenças de toda a comunidade. No passado, tais falsas verdades eram de natureza religiosa. Actualmente, são de natureza médica e política".

Não vou considerar o aspecto da doença mental que me parece muito polémico, embora seja claro que a Psiquiatria tem sido usada nos tempos modernos como arma política, nomeadamente  nas "democracias" populares da foice e do martelinho; mas gostava de chamar a atenção para a segunda citação de Szasz, especialmente quando fala do perigo de  ter razão quando a sociedade considera verdade  o erro da maioria.
O erro da maioria é muitas vezes o politicamente correcto, para falar bem e depressa. É o que impede de chamar os bois pelo nome, de denunciar a nudez do rei, de dizer que o regime democrático é muito bom mas que, em Portugal e neste momento, é uma trampa. E também o que considera sagrada a ética republicana, ficando nós sem saber se é a ética da Coreia do Norte, de Cuba, do Zimbabué, da Guiné Equatorial, ou do Burkina Fasso.
Tudo é discutível e eventualmente condenável. E muito do condenável não é tanto assim. Não há verdades absolutas, nem mesmo as que são votadas por unanimidade. Não conheço coisa mais perniciosa para um país que a imposição do politicamente correcto, mesmo por plebiscito. Como dizia um brasileiro no programa do Jô, se é correcto não pode ser político; se é político, não pode ser correcto: não há politicamente correcto. 
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