A expressão "experiência de quase morte"
corresponde ao que os franceses chamam "experience de mort imminente"
e os anglo-saxónicos "near-death experience" e refere-se ao fenómeno
descrito por alguns doentes que passaram por situações muito próximas da morte,
frequentemente por paragem cardíaca transitória, e recuperaram a
consciência.
Contam eles coisas variadas, mas há alguns aspectos das descrições
que se repetem, nomeadamente a sensação
de flutuar acima do corpo físico ou de ocupar outro corpo; a percepção de
pessoas diferentes à volta; visão de 360 graus; alteração do ritmo do tempo;
maior acuidade dos sentidos; e a imagem de um túnel com fundo intensamente
iluminado.
Naturalmente que tais descrições alimentam os argumentos
da existência de vida para além da morte, embora não conheça declaração
oficial de qualquer hierarquia religiosa sobre isso.
O fenómeno é velho, ganhou relevância depois de Raymond Moody publicar em 1975 um best-seller intitulado "Vida Depois da Vida", e falo
dele porque li hoje a notícia de se ter encontrado o que se pensa ser a mais antiga
descrição do fenómeno. O Dr. Phillippe Charlier, médico francês conhecido pelos estudos de Medicina Forense
relativos a figuras históricas, informa-nos que descobriu num caga-sebo o livro
intitulado "Anecdotes
de Médecine", de um tal Dr. Pierre-Jean du Monchaux, médico militar, com a descrição da experiência de quase morte em 1740.
Segundo Monchaux, a situação seria explicada pelo afluxo
súbito de quantidade anormalmente elevada de sangue ao cérebro, em tentativa reflexa do
organismo para preservar a sua função. Naturalmente que, em 1740, com os
métodos de investigação então existentes, a opinião do Dr. Monchaux não passava
de palpite, para não lhe chamar bitaite porque, em 1740, o professor Hernâni
Gonçalves ainda não tinha nascido. O problema é que, 274 anos depois,
continuamos na fase dos bitaites.
Actualmente, a teoria com maior aceitação é a de que se
passa exactamente o contrário. A falta de oxigenação dos neurónios nesses
doentes provocará alterações metabólicas
traduzidas em hiperactividade celular, responsável pelas percepções descritas.
Teoria apoiada pela observação dos registos cerebrais realizados em ratinhos
quando se lhes provoca paragem cardíaca.
Em resumo, os ratinhos que não têm nada
a ver com o problema, nem estão interessados em perceber essa coisa da experiência
de quase morte, é que se lixam. É quase sempre assim—faz parte da natureza do
Homo sapiens.
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