Diz-se que amigos são como
família, ou são a família escolhida. Porque se faz amizade com A e não com B? É
um fenómeno de sociabilização? Naturalmente é, mas parece ter base
biológica. Investigação recente, em 2.000 pessoas, demonstra que os amigos têm mais características
genéticas em comum que os não amigos. A semelhança é da mesma ordem de grandeza
da observada em primos em quarto grau ou em tetravós e tetranetos.
Naturalmente que a razão
está à vista. Imagine-se um planeta em que os habitantes do género Homo não falam e que, subitamente, um
deles tem uma mutação genética capaz de lhe conferir capacidade de se exprimir
oralmente. Tal só lhe serve se outro ser da mesma espécie o puder também fazer
e, nesse caso, estabelece-se uma união entre os dois. O mesmo acontece com as características
que constroem a amizade. Características que são fenotípicas, ou seja,
expressas comportamentalmente, mas dependem do genotipo, ou dos genes.
Os autores estudaram quase
1.5 milhões de marcadores de genes e pode-se dizer que estabeleceram o método
de avaliar a probabilidade de alguém se tornar amigo de alguém. O trabalho, publicado
em 14 de Julho passado nos "Proceedings of the National Academy of
Sciences" dos Estados Unidos, é de interesse duvidoso, dependendo do ponto
de vista.
Por um lado, vem ajudar a
compreender biologicamente um fenómeno social de primeira importância. Por
outro, é mais uma machadada no lado poético da vida—a amizade convertida em
mera sobreposição de umas tantas variações genéticas é coisa de estarrecer.
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