As palavras, em princípio, servem para expressar imagens e ideias. À primeira vista, a imagem ou ideia transmitida pela palavra é limitada. Janela significa abertura numa parede, por exemplo, podendo ser grande ou pequena, com persiana ou sem ela, decorada com cortinas ou não e por aí fora, mas sempre abertura numa parede. Será? Não é.
Janela, em grande número de expressões significa outra
coisa, como maneira de ver um problema, oportunidade, esperança e muito mais. São
usos paralelos da palavra janela, aquilo a que se chama metáfora—usamos a
palavra para expressar uma imagem ou ideia que não é a que lhe está destinada
em princípio. Acontece com vietnams para referir fiascos bélicos, himalaias
para enormes quantidades, tubarões para capitalistas vorazes, maré, ocaso,
cavalgadura e rebabá.
Postas as coisas assim, adivinha-se que a metáfora é de
uso privilegiado pelos poetas, tribunos, políticos e ofícios correlativos. Estou
a lembrar-me do saudoso Lucas Pires, especialista em metáforas, quando falava,
se bem me lembro, da coligação de dois partidos dizendo que lhe lembrava uma
daquelas bicicletas antigas com uma grande roda motora à frente e uma roda insignificante
e pequena atrás que ia a reboque da outra.
Para surpresa minha, soube hoje que a metáfora não serve
só para jogos florais, pedindo desculpa ao leitor pela minha ignorância que o
escandaliza. A metáfora é um instrumento de trabalho com valor, a ponto
de ser profissão a arte de as criar, o que tem uma ciência subjacente: são os designers de metáforas! Michael Erard, por
exemplo, é designer de metáforas em full-time há 5 anos, no Frame Works Institute, um think tank em Washington que trabalha
para grandes fundações americanas (não colabora com políticos).
Não vou pregar-lhe uma seca sobre a teoria da concepção
de metáforas, que considero fascinante e pode ler aqui num artigo do próprio Erard.
Para dar uma ideia e voltando à janela, há janelas viradas a Poente, há as
viradas a Nascente e as virada a Sul, todas com significado metafórico
diferente—isto só para deixar um "cheirinho" da ciência em apreço. E,
por exemplo, a imagem de máquina para referir o cérebro, deixa a ideia de que
pode avariar-se e ser reparado, coisa boa ou má, dependendo do que se
quer fazer passar.
Acho que tentar criar metáforas não é só um passatempo
literário. É talvez um óptimo exercício mental para quem está a ficar
esclerosado. É um conselho a quem servir.
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