terça-feira, 9 de junho de 2015

A METÁFORA

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As palavras, em princípio, servem para expressar imagens e ideias. À primeira vista, a imagem ou ideia transmitida pela palavra é limitada. Janela significa abertura numa parede, por exemplo, podendo ser grande ou pequena, com persiana ou sem ela, decorada com cortinas ou não e por aí fora, mas sempre abertura numa parede. Será? Não é.
Janela, em grande número de expressões significa outra coisa, como maneira de ver um problema, oportunidade, esperança e muito mais. São usos paralelos da palavra janela, aquilo a que se chama metáfora—usamos a palavra para expressar uma imagem ou ideia que não é a que lhe está destinada em princípio. Acontece com vietnams para referir fiascos bélicos, himalaias para enormes quantidades, tubarões para capitalistas vorazes, maré, ocaso, cavalgadura e rebabá.
Postas as coisas assim, adivinha-se que a metáfora é de uso privilegiado pelos poetas, tribunos, políticos e ofícios correlativos. Estou a lembrar-me do saudoso Lucas Pires, especialista em metáforas, quando falava, se bem me lembro, da coligação de dois partidos dizendo que lhe lembrava uma daquelas bicicletas antigas com uma grande roda motora à frente e uma roda insignificante e pequena atrás que ia a reboque da outra.
Para surpresa minha, soube hoje que a metáfora não serve só para jogos florais, pedindo desculpa ao leitor pela minha ignorância que o escandaliza. A metáfora é um instrumento de trabalho com valor, a ponto de ser profissão a arte de as criar, o que tem uma ciência subjacente: são os designers de metáforas! Michael Erard, por exemplo, é designer de metáforas em full-time há 5 anos, no Frame Works Institute, um think tank em Washington que trabalha para grandes fundações americanas (não colabora com políticos).
Não vou pregar-lhe uma seca sobre a teoria da concepção de metáforas, que considero fascinante e pode ler aqui num artigo do próprio Erard. Para dar uma ideia e voltando à janela, há janelas viradas a Poente, há as viradas a Nascente e as virada a Sul, todas com significado metafórico diferente—isto só para deixar um "cheirinho" da ciência em apreço. E, por exemplo, a imagem de máquina para referir o cérebro, deixa a ideia de que pode avariar-se e ser reparado, coisa boa ou má, dependendo do que se quer fazer passar.
Acho que tentar criar metáforas não é só um passatempo literário. É talvez um óptimo exercício mental para quem está a ficar esclerosado. É um conselho a quem servir.
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