quarta-feira, 17 de junho de 2015

ESTA TEORIA É DA CORDA

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Diz-se que há duas coisas a que ninguém foge: à morte e aos impostos. Mas a sabedoria popular está desactualizada—a fuga aos impostos é um inestimável bem cultural adquirido, deixando a morte isolada no rol das inevitabilidades da vida.

Vem a conversa a propósito dum texto que li hoje sobre se há alguma coisa de que possamos estar absolutamente certos. Naturalmente, a morte lá aparece, embora sem a força que se esperaria. Desde logo porque o que chamamos morte é para muitos apenas a passagem duma fronteira para nova forma de ser. E também porque a evolução biológica nos tem trazido muitas surpresas nas formas da vida e a imortalidade neste mundo não será maior escândalo que a evolução do ser unicelular procariota até ao homem que usa a linguagem falada e escrita, compõe o Bolero de Ravel e a 9ª Sinfonia, mergulha sem ter guelras, voa sem ter asas, escreve "Os Lusíadas", vai ao espaço e fabrica bombas atómicas.

Chegados a este ponto, pergunta-se de que outras coisas podemos estar certos. Do passado? Como já falámos, o passado, por definição, não existe—faz parte da sua natureza ter acabado. Existe apenas na nossa mente, arquivo menos fiável que apontamento escrito na areia em dia de vento.
E o presente, existe? Recorde-se que presente é apenas transição do passado para o futuro, linha imaginária, fim e princípio do caminho, é pau, é pedra, um resto de toco. Mesmo dando-lhe o benefício da existência, o presente é um conjunto de percepções fabricadas pelo nosso encéfalo, a partir de dados colhidos pelos sentidos na chamada realidade e que, em boa verdade, não sabemos a que correspondem. A Teoria das Cordas, por exemplo, fala em 11 dimensões quando nós só vemos 3. Provavelmente, acontece o mesmo com outros dados apreciados pelos nossos sentidos e haverá dados da realidade—se é que esta existe e não é apenas ilusão—para que não temos receptores.
Descartes, porque pensava, tinha a certeza que existia, mas não tinha mais certezas sobre o resto de mundo, se é que este existe. Pensando bem, acho que é a única certeza que podemos ter—muito mais que a da morte e infinitamente mais que a dos impostos, mesmo com este Governo.
Enquanto pensamos, temos a certeza que existimos—nós, não o resto do universo. Quando não pensamos, não existimos e, muito menos, o universo. O resto é parlapiê. 
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