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O Zezito deu uma de dignidade. Confrontado com a
possibilidade de abandonar a pildra anilhado, recusou a hipótese invocando o
respeito que devem merecer os cargos políticos que desempenhou, nomeadamente de
secretário-geral do PS, deputado, secretário de Estado, ministro, primeiro-ministro
e provavelmente mais coisas que não me ocorrem agora e talvez seja melhor não falar. É bonito!
Zezito, de forma megalómana, compara a sua prisão às de Napoleão
e Mandela e—não tanto megalómana assim—à de Mário Soares. Dir-me-ão que seis
meses numa cela de outros tantos metros quadrados terão afectado o
discernimento do homem. É possível. Mas para chegar a tal estado não era
precisa muita afectação—o detido em apreço já nasceu um nadinha afectado: é da
sua natureza. Napoleão e Mandela foram presos políticos. Zezito está detido por
suspeita de crimes de delito comum. Não é bem a mesma coisa.
E o respeito pelos cargos políticos que ocupou deviam
tê-lo impedido de aceitar empréstimos milionários de um amigo trabalhador numa
empresa que, durante o exercício desses cargos, facturou milhões ao Estado;
empréstimos feitos em cash e
transportados para Paris em malas ou envelopes (porque não tinha confiança nos
bancos, o que configura lavagem de dinheiro), e sem que haja uma nota ou
apontamento, onde se veja o que foi emprestado, não se recordando nenhum deles
quanto foi!
E também não devia viver naquela cidade em casa "alugada"
ao tal amigo, pagando uma renda que, espantosamente, não se lembra de quanto
era, não tendo o referido aluguer ocorrido há dez anos, mas há menos de dez
meses! E tudo quanto acima se diz não é inventado por mim, pelos jornais, nem
pelos magistrados: é dito por ele próprio, Zezito de seu nome, e pelo amigo.
Dir-me-ão que ainda há gente que acredita na lisura do
homem. Eu sei. O Dr. Soares—que não sei se acredita—diz que acredita; e há mais
assim! Mas, parafraseando Jô Soares, tem socialista que é cego. Não há nada a
fazer.
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