sábado, 6 de junho de 2015

SOPA DE LETRAS

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Um dos passatempos predilectos do Homo sapiens é falar de coisas que não existem. Não me refiro a factos que—de facto—não existem, como a contratação do Jesus pelo Sporting, porque nem Jesus nem o Sporting existem (são alucinações sociais provocadas pelos discursos do Nóvoa), mas a coisas que existem, mas não existem de facto. Espero estar a ser claro como água de rocha.
Jesus, Sporting, Nóvoa, rio triste, fazer do  silêncio um resguardo e por aí fora são coisas que não existem—assentamos para começar. Coisas que existem mas não existem de facto, são—num supôramos—o passado, o presente e o futuro. E já estou a ouvir algum incauto leitor a dizer: Essa agora!!!... Passo a explicar, portanto.
Para começar, diga-me por favor o que é o presente. Vai dizer que é este preciso momento. Não é: quando acabei de digitar a última letra—o "a" da palavra letra—esse preciso momento já era passado. Presente é um conceito fabricado pela nosso encéfalo que não corresponde a nada porque o tempo não pára e a duração do presente é zero segundos—um tempo de zero segundos não existe, obviamente, a não ser na sua cabeça.
Então, tem uma armadilha para mim e pergunta: e o passado? Olhe, respondo eu, o passado já não é: passou, acabou. É outra invenção do conteúdo da nossa caixa craniana. Só existe lá dentro. O saudoso António Mourão pedia para o tempo voltar para trás mas, infeliz ou felizmente, não volta—kaput. E o mesmo para o futuro, o que nem carece de explicação pois, se é o que há-de vir, ainda não veio e não há.
Vem isto a propósito da pergunta sobre quando começa o futuro. Em boa verdade, o futuro está a começar permanentemente. Vivemos num movimento temporal em que o passado nos despeja no futuro continuamente, futuro que é logo passado.
Estão a ver como o Homo sapiens gosta de falar de coisas que não existem? Já escrevi 330 palavras (exactamente até aqui) a falar de passado, presente e futuro e nenhum deles existe! Por isso gosto de ouvir o Nóvoa.
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