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O “Telegraph” de hoje publica um artigo de David Hughes intitulado “Do we really need foreign language skills to flourish?” em que o jornalista fala da necessidade, ou não, dos britânicos aprenderam outra língua além da sua e, pelas voltas dadas ao mundo, conclui que se fala inglês em toda a parte, pelo que não é necessário. Diz a terminar: “In other words, while the British may be monumentally hopeless at learning foreign languages, the rest of the world is coming to our rescue by learning ours.”
É uma manifestação de tanta estupidez tal posição que me parece difícil perceber como um jornalista importante, com funções de chefia no “Telegraph”, pode escrever coisa assim. Um leitor, na caixa de comentários, comenta: Meu Deus! Sou um estrangeiro a viver na Grã-Bretanha e sentir-me-ia inferior e mudo se falasse só uma língua. Falar outras línguas não serve só para perguntar onde é a casa de banho numa aflição. Alarga os horizontes. Não se é mentalmente limitado... fica-se familiarizado com outra cultura. Pode ler-se literatura estrangeira no original e aprende-se a apreciar os estrangeiros que fazem esforços hercúleos para aprender a nossa língua.
A língua é um instrumento mental ímpar, digo eu. A capacidade de pensar e raciocinar avançou léguas com o seu desenvolvimento. É um dos mais importantes factores no condicionamento da actividade racional. Povos há com limites nas faculdades mentais decorrentes duma língua pobre, com incapacidade, por exemplo, de exprimir conceitos abstractos. Mas mesmo as línguas diferenciadas têm limitações aqui e ali. E o que é o “aqui e ali” difere dumas para outras. Daí a vantagem de poder ler alguns textos no original, textos que perdem a capacidade de exprimir uma ideia precisa quando são traduzidos. Tente-se fazer uma tradução e logo se esbarra com tal dificuldade.
O artigo do “Telegraph” é uma infeliz loa à preguiça, se não à xenofobia.
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