quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

PINGOS DE HISTÓRIA MILITAR

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A mobilidade dos exércitos foi sempre um dos maiores problemas postos aos generais através da História. Não basta deslocar forças dum local para outro com a rapidez exigida: é necessário manter a tropa alimentada, saudável e operacional. A história da invasão da Rússia por Napoleão, em 1812, é um belo documento sobre a matéria. Com um exército de 400.000 homens, moralizado por uma série de êxitos fulminantes, a máquina de guerra napoleónica parecia imbatível.
Mas ao contrário do que havia acontecido nas campanhas na Europa Ocidental, em que os abastecimentos para o sustento dos militares eram obtidos por aquisição local, ou simplesmente pelo saque, na Rússia Napoleão sabia que tinha de levar os mantimentos consigo, o que representava uma operação logística colossal a exigir a participação de 26 batalhões de manutenção, 8 dos quais com 600 carros ligeiros cada, e cada um dos outros 18 com 250 carros tirados por quatro cavalos e capazes de transportar 1,6 toneladas, o que fazia um total de 9.300 carros. O número de cavalos para puxar carros e servir a cavalaria era de 250.000.
Apesar do impressionante destes números, a verdade é que eram insuficientes. Se chegasse a Moscovo em dois meses só com metade dos homens, Napoleão teria ainda necessidade de 16.330 toneladas de abastecimentos, o dobro da capacidade dos seus carros da manutenção. Confiante numa operação fulminante, tinha rações para apenas 24 dias.
Os russos haviam retirado, evitado os confrontos e destruído tudo que deixaram para trás. A “Grande Armée” perdia 5.000 homens por dia, por deserção, doença e suicídio, e os cavalos morriam ao ritmo de 50 por quilómetro, principalmente por comerem em pastos impróprios.
Napoleão chegou a Moscovo em Setembro apenas com um quarto das forças iniciais. Mas com a indisponibilidade do Czar Alexandre I para assinar a paz, e com o estado das tropas francesas resultante da táctica de terra queimada do Czar, não havia muito por onde escolher: a retirada era inevitável.
O panorama na retirada era de pesadelo com cadáveres de soldados e cavalos por todo o lado, alguns esquartejados para alimentação, os fogos e o ar cheio de fumo, os destroços dos carros e dos canhões, tudo constituía cenário poucas vezes visto na História.
Mas para complicar mais surgiu novo problema: as ferraduras dos cavalos eram de Verão, sem os pitões necessários no Inverno para poderem puxar na neve e no gelo. Os animais eram incapazes de subir uma encosta, ou descê-la. As fracturas dos membros ocorriam constantemente.
Afligida pela fome, pelo frio, e pela cavalaria russa, a “Grande Armée” desmoronava-se. Quando Napoleão a deixou, na Polónia, tinha menos de 10.000 efectivos. Pode dizer-se que o trágico da retirada foi provocado em grande parte pelas ferraduras dos cavalos, o que mostra a importância da logística na guerra. Por isso, a substituição das viaturas de tracção animal pelas motorizadas, feita pelos americanos na II Guerra Mundial, constituiu enorme progresso nas artes marciais.
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