Em 2008, com os Estados Unidos a atravessar uma crise financeira gravíssima que exigiu do governo federal a disponibilização de 245 mil milhões de dólares para resgate de instituições bancárias, e em que 3 milhões de casas foram perdidas pelos respectivos proprietários e moradores por execução de hipotecas, os executivos financeiros que criaram tal situação receberam um bónus salarial de 20 mil milhões. Interrogado numa entrevista sobre esta matéria, o Presidente Obama respondeu com uma palavra: vergonhoso.
Serve a introdução acima para falar da vergonha. Difícil de definir a vergonha. Diz-se que é um sentimento despertado por falta na colaboração com o interesse da sociedade ou do grupo, que regula os comportamentos e serve de alerta para a hipótese de punição. Terá sido sentido de início em relação a problemas de cobiça e incompetência. Está escrito, mas não parece provável; porque a cobiça e a incompetência, na minha modesta opinião, serão sentimentos mais recentes que a vergonha na história do homem.
A culpa é coisa diferente. Enquanto a vergonha implica um contexto social, a culpa pode existir no mais completo isolamento. O carácter social da vergonha é demonstrado pelo condicionamento dos comportamentos quando se está ou não a ser observado. Numa universidade inglesa em que o café do bar era pago voluntariamente numa caixa sem funcionário, e num montante ao critério do utilizador, verificou-se que, se em frente da caixa estivessem quadros com faces humanas, a contribuição era quase três vezes maior do que se estivessem quadros com flores.
A sensação de ser observado aumenta a cooperação com a sociedade e daí a obrigação social de observar os outros. Tentar ver o que os outros fazem não é, possivelmente, tão mau como se pinta. Talvez seja parte fundamental de ser humano. Porque quanto mais proeminente é o papel da vergonha, mais colectivista e solidária é a sociedade.
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