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Cosmogonia—do grego cosmos (universo) e gonos (produzir)—
é a disciplina que trata da teoria da
origem do universo. Antes dela, o tema era objecto de mitos e lendas, o que não
significa que na Cosmogonia não haja versões próximas disso. Para os antigos
gregos, seus pioneiros, as coisas eram simples: o mundo teria sido feito a
partir do caos, uma cangalhada que para Heráclito era o fogo, para Anaximandro,
entidade abstracta sem limites (?!), para Platão, Aristóteles e Tales, outra
trampa qualquer. Na realidade, os filósofos gregos não estavam muito preocupados
com a matéria prima, eterna naturalmente, mas com o fenómeno da transformação
do caos em ordem. Nunca lhes ocorreu a ideia do universo partir do nada.
Mesmo na versão judaica do Genesis, ou pelo menos
nalgumas versões, Deus teria criado o mundo a partir do caos da terra e da
água, "sem forma"—tohu bohu, no hebraico original. No início do
Cristianismo, surgiu a ideia que a existência do caos prévio implicava a noção
dum Criador carecido de qualquer coisa para fazer Sua obra, configurando limite
de poder e, no Século II ou III, a Cosmogonia foi reformada, com a Criação a
partir do nada—ex-nihlo.
Estava lançado, com tal versão, o conceito do nada. E, no
ano de 1714, Leibniz escreve o ensaio "Princípio da Razão Suficiente",
onde afirma que há uma explicação para cada facto e uma resposta para cada
pergunta. E dito isto, continua—a primeira questão que temos direito a perguntar
é: "Porque existem coisas, ou alguma coisa, e não o nada?"
Desde logo a pergunta levanta a questão de que já
falamos, qual é a do que é o nada. Nestas coisas, quanto mais se mexe, menos se
vê. Uma trapalhada de que ainda me ocuparei noutro dia!
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