terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O SENSO E SUA FALTA

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O físico americano (de origem alemã) Berndt Matthias dizia: "Se vires num artigo científico uma fórmula matemática que ocupa um quarto da página, esquece. Está errada. A natureza não é assim tão complicada".
Não tenho a petulância de dizer que estou de acordo com Matthias, mas suspeito que tinha razão. Quase sempre, as noções indiscutíveis da ciência são fáceis de explicar—muita complicação é sinónimo de trapalhada, confusão, tentativa de aproximação, muitas vezes asneira. Quando vigorava a teoria geocêntrica, havia dificuldade em explicar alguns fenómenos visíveis, como a posição e movimentos de outros planetas, o que levou à formulação de doutrinas capazes de encher muitos quartos de página de que falava Matthias. Estava tudo errado porque a Terra não era o centro do universo, como ele teria previsto.
O biólogo inglês Thomas Huxley disse um dia que a ciência não é mais do que o senso comum organizado. Aí está uma coisa seguramente certa, porque simples. Ciência não é senso comum desorganizado, que há muito, nem falta de senso comum organizado, que ainda há mais.
Em boa verdade, falta de senso comum organizado é a praga dos nossos dias—basta olhar para os partidos políticos. Organizações pesadíssimas e caríssimas que não cabem num volume do tamanho d'Os Lusíadas e cujo parto é a asneira por tradição. O mesmo se aplica a outras actividades, desde as artes ao desporto, passando pela chamada comunicação social e pelo lazer. O problema, como dizia Descartes, é que até os mais difíceis de contentar nas outras coisas não costumam desejar mais senso do que aquele que têm. Tal e qual.
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