Na sua autobiografia,"Confissões", o filósofo e
teólogo Santo Agostinho escreveu, há mais de 600 anos: a quem quer saber o
que fazia Deus antes de criar o mundo, responde-se que estava a criar o Inferno para pessoas que fazem a pergunta.
Tal e qual. Há perguntas incómodas e é preciso saber
tirar a bola ao adversário, mesmo mandando-a para canto. Os defensores da teoria
do Big-Bang, por exemplo, ficam encravados quando alguém pergunta como eram as
coisas antes e têm boa razão para ficar. O universo começou num ponto contido
numa esfera de raio zero, ponto que continha toda a massa e energia do actual
cosmos. Antes não havia nada. Complicado? Muito!...
Mas há maneiras de dar a volta ao problema. O antes do
Big-Bang é como o Norte: a Norte de Lisboa fica o Porto, a Norte do Porto fica Viana,
a Norte de Viana fica o Polo Norte; e a Norte do Polo Norte fica o quê? Ou então:
os teóricos do Big-Bang escalaram penosamente a montanha da ignorância e
quando chegaram ao cume encontraram um grupo de teólogos que lá estavam há
séculos. Também se pode dizer ser a pergunta estúpida e sem resposta: se o
Big-Bang deu origem à massa, à energia, ao espaço e ao tempo, não há antes do Big-Bang
porque sem tempo não havia antes nem depois—o antes e o depois são criações do
Big-Bang. Eh... eh... eh...
Quem leva a teoria mais a sério diz coisas mais complicadas.
Por exemplo, que a actual expansão do universo é temporária e, quando
desacelerar, a gravidade vai provocar o colapso outra vez num ponto.
Ponto que pode dar origem a novo Big-Bang, o Big-Bang x, ou y, ou z. Isto é, o
universo seria eterno e como a concertina: ora estica, ora encolhe. Em boa verdade, por enquanto não há sinais disso porque a
expansão se faz aceleradamente, ou seja, com velocidade crescente. Não quer
dizer que não desacelere e não pare, como a bicicleta em que se deixa de
pedalar.
Astrónomos há que são poetas também. O astrónomo
britânico Arthur Eddington achava a ideia de universo ioiô deplorável.
Para ele, o universo deve crescer até atingir o objectivo—que não sabia qual
era—e depois morrer com dignidade e definitivamente, sem a banalidade da repetição. A seguir ao
esplendor, a morte dramática e o nada. Estou de acordo. Devemos estar todos.
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