segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

NASCER, VIVER E MORRER

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Na sua autobiografia,"Confissões", o filósofo e teólogo Santo Agostinho escreveu, há mais de 600 anos: a quem quer saber o que fazia Deus  antes de criar o mundo, responde-se que estava a criar o Inferno para pessoas que fazem a pergunta.
Tal e qual. Há perguntas incómodas e é preciso saber tirar a bola ao adversário, mesmo mandando-a para canto. Os defensores da teoria do Big-Bang, por exemplo, ficam encravados quando alguém pergunta como eram as coisas antes e têm boa razão para ficar. O universo começou num ponto contido numa esfera de raio zero, ponto que continha toda a massa e energia do actual cosmos. Antes não havia nada. Complicado? Muito!...
Mas há maneiras de dar a volta ao problema. O antes do Big-Bang é como o Norte: a Norte de Lisboa fica o Porto, a Norte do Porto fica Viana, a Norte de Viana fica o Polo Norte; e a Norte do Polo Norte fica o quê? Ou então: os teóricos do Big-Bang escalaram penosamente a montanha da ignorância e quando chegaram ao cume encontraram um grupo de teólogos que lá estavam há séculos. Também se pode dizer ser a pergunta estúpida e sem resposta: se o Big-Bang deu origem à massa, à energia, ao espaço e ao tempo, não há antes do Big-Bang porque sem tempo não havia antes nem depois—o antes e o depois são criações do Big-Bang. Eh... eh... eh...
Quem leva a teoria mais a sério diz coisas mais complicadas. Por exemplo, que a actual expansão do universo é temporária e, quando desacelerar, a gravidade vai provocar o colapso outra vez num ponto. Ponto que pode dar origem a novo Big-Bang, o Big-Bang x, ou y, ou z. Isto é, o universo seria eterno e como a concertina: ora estica, ora encolhe. Em boa verdade, por enquanto não há sinais disso porque a expansão se faz aceleradamente, ou seja, com velocidade crescente. Não quer dizer que não desacelere e não pare, como a bicicleta em que se deixa de pedalar.
Astrónomos há que são poetas também. O astrónomo britânico Arthur Eddington achava a ideia de universo ioiô deplorável. Para ele, o universo deve crescer até atingir o objectivo—que não sabia qual era—e depois morrer com dignidade e definitivamente, sem a banalidade da repetição. A seguir ao esplendor, a morte dramática e o nada. Estou de acordo. Devemos estar todos.
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