Bertrand Russel disse um dia que Ciência é o que se
conhece, Filosofia o que não se conhece. O dito cheira a boutade depreciativa, tosca e rasteira sobre a Filosofia. Não é.
Russel faz parte duma selecção de físicos quânticos que
se distinguiram, ou distinguem, também na Filosofia, como Stephen Hawking,
Steven Weinberg, Lisa Randall e outros. Aliás, não surpreende o facto porque se
trata de gente muito próxima da origem e formação do cosmo, dos quais se pode dizer,
parafraseando o título dum livro de Randall, que batem todos os dias à porta do
Céu. É gente que caminha no fio da navalha, na posição exacta da linha de fronteira
entre o conhecido e o desconhecido.
O que se considera consensualmente conhecido é património
da Ciência embora, pela própria natureza desta, seja provisório e aberto à correcção.
O que mora para lá desse património é desconhecido e objecto de especulação
racional—ou seja, filosófica—mais fácil, convidativa e esclarecida para quem
vive no reino do conhecimento científico. É assim a Filosofia moderna e, como
tal ocupa-se do que não se sabe, nas palavras de Russell.
A questão do livre arbítrio, de que falei há dias, é um
bom exemplo. O homem decide o seu comportamento livremente, ou é condicionado—parcialmente
ou de todo—por factores genéticos e ambientais? Abordar um questão destas a
partir da Filosofia clássica, ou da Religião, é perigoso, sem apoio de estudo genético,
das neurociências, da Sociologia.
Receando fazer afirmação
arriscada, parece-me que deve ser a Ciência a coordenar a Filosofia, como
começou no tempo embrionário das duas disciplinas, na antiga Grécia. A
separação pacífica por mútuo acordo não ocorreu há muito tempo, mas vem-se
revelando improdutiva. E a Ciência está a retomar o controlo filosófico, como
convém.
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