No ensaio "O Mito de Sísifo", Camus escreve
esta coisa:
[...] Só existe um problema filosófico realmente sério: é
o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à questão
fundamental da Filosofia. O resto, se o mundo tem três dimensões, se o espírito
tem nove ou doze categorias, aparece em seguida. São jogos. É preciso, antes de
tudo, responder. [...]
E mais adiante:
[...] Galileu, que detinha uma verdade científica importante, abjurou-a
com a maior facilidade desse mundo quando ela lhe pôs a vida em perigo. Em certo sentido, ele fez bem. Essa verdade não valia a fogueira. Se é a Terra ou
o Sol que gira em torno um do outro é algo profundamente irrelevante. Resumindo
as coisas, é um problema fútil. Em compensação, vejo que muitas pessoas morrem
por achar que a vida não vale a pena ser vivida. Vejo outras que,
paradoxalmente, se fazem matar pelas ideias ou as ilusões que lhes proporcionam
uma razão de viver (o que se chama uma razão de viver é, ao mesmo tempo, uma
excelente razão para morrer). Julgo, portanto, que o sentido da vida é a
questão mais decisiva de todas. [...]
Camus acreditava, segundo se deduz, que a última questão do homem é o significado
da vida e só se chega à resposta pela experiência interior. A observação do cosmos será enganadora,
sobretudo uma perda de tempo—"um problema fútil", dizia.
Muitos físicos modernos, também filósofos inspirados, consideram
só ser a realidade humana apreendida—se alguma vez o for—quando enquadrada na compreensão
da arena cósmica. A posição de Camus é um pouco a do observador do umbigo, típica
dos filósofos clássicos. A Mecânica Quântica e a Cosmologia abrem cada vez mais
a janela de onde vemos o mundo e o nosso
desempenho nesse cenário. Creio bem ser o caminho certo.
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