Dizia eu ontem que o homem, na versão actual, tem cerca de 50 mil anos. Foi precedido por numerosas espécies menos diferenciadas, provavelmente com origem em África e a partir do chimpanzé. É legítimo perguntar em que momento dessa evolução surgiu nele o que os teólogos chamam alma, característica de diferenciação ontológica.
Se se começa num ser sem tal dom, como o chimpanzé, e se chega a outro com ele, há necessariamente um momento de instilação da qualidade. Foi quando o ADN atingiu o actual perfil? Foi antes? Foi depois? Parece que ninguém sabe, nem se teoriza sobre a matéria.
Um belo dia, tive oportunidade de falar sobre isso com um
doente meu, doutorado em Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
Perante a pergunta, olhou para mim e declarou que isso não interessa nada.
Salvo o respeito devido por tão ilustrada personalidade, acho que interessa até
bastante. Pode dizer-se que não se sabe, naturalmente, mas interessa—pelo menos,
pensar e especular interessa. E explico porque digo isto.
O conceito de alma imortal está classicamente associado
ao de religião, sendo religião a crença num ser sobrenatural que impõe comportamentos
e práticas de culto. Tal exige
diferenciação intelectual que não existia, por exemplo, no Ardipithecus
ramidis. Daí que se possa inferir ter a religião surgido muito próxima do aparecimento
do homem moderno, há 50 mil anos como referido. Até aqui, vai tudo bem.
Mas surge um problema: as religiões monoteístas—as únicas
que vale a pena contemplar nesta matéria—foram reveladas por profetas ou
equivalentes e tal aconteceu há escassos milhares de anos (o homem moderno tem 50
mil anos, recordo). No plano teórico, é legítimo perguntar o que acontecia, ou
aconteceu, com as putativas almas anteriores a essas revelações. Ou, de facto,
só surgiram as almas a partir das
revelações?
O teólogo que referi que me desculpe, mas interessa. Bastante, digo eu.
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