Sou um arranjo precário de moléculas, ligeiramente
diferente do chimpanzé que já fui. Inesperada mutação nos genes fez o ser
que sou. Já tinha acontecido assim com o chimpanzé meu antepassado, com o seu
antepassado e com o antepassado do antepassado. Todos morreram. Também morrerei. A diferença é que
eu sei e eles não.
Morrer é mau. Talvez pior, é saber que se morre. O chimpanzé tem sorte—ignora; tal como o antepassado do antepassado do seu antepassado.
A primeira e única criatura na Terra que sabe sou eu; e, claro, os semelhantes
a mim. Os que já morreram não sei se sabem—não sei sequer se sabem
alguma coisa.
Por isso, quando na caminhada da evolução biológica nasceu
a consciência, nasceu a religião. Porque
é boa—ajuda a viver com o conhecimento da morte. É bom ter fé, primeira virtude
teologal para os católicos. Primeira, embora consequência da segunda, a esperança. Esta alimenta
a fé porque o homem não quer morrer como
morria o chimpanzé, seu antepassado, que era pó e ao pó voltava—pó de estrela
acrescente-se—acabando. O homem também é pó de estrela, mas não quer acabar assim—muito
justamente.
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