sábado, 14 de junho de 2014

COM AS CALÇAS NA MÃO

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Sou do tempo em que calças eram peça exclusiva do vestuário masculino. Mulher de calças era coisa exótica, como era mulher que fumava ou, até há pouco tempo, homem de cabelo pintado com madeixas. A moda é convenção e convenção é mesmo isso—apenas costume admitido nas relações sociais, sem qualquer racionalidade e volátil. 
Mas já deve ter reparado, quando vê gravuras antigas, pinturas, esculturas, rebabá, que antigamente os homens também não usavam calças. Porque misteriosa razão se cansaram eles de sentir a brisa a soprar entre as pernas e bifurcaram o vestuário das virilhas para baixo? É esta matéria importante, cujo esclarecimento se afigura fundamental para a cabal compreensão da história do Homo sapiens sapiens. Felizmente, estou em condições de avançar alguns esclarecimentos sobre isto.Os arqueologistas Ulrike Beck e Mayke Wagner, do Instituto Arqueológico Alemão, em Berlim, escavaram duas sepulturas antigas do cemitério de Xinjiang, na China, e encontraramvejam lá!dois pares de calças bem conservadas; e a datação pelo carbono 14 mostra que têm entre 3.000 e 3.300 anos, o que as faz as mais antigas calças conhecidas, mais que uns jeans que tenho e ainda uso.
Como são da época em que historicamente surgiu a pastorícia móvel, com grandes deslocações de animais em busca de água e alimentos suficientes, tal fez nascer novo meio de transporte para os pastores, no dorso de cavalgaduras. E rapidamente se percebeu que túnicas, robes, saias, jilabas e todas essa cangalhada não dava jeito nenhum para bem cavalgar em toda a sela. Assim nasceu o vestuário bifurcado para enfiar nos membros inferiores e se escarrapacharem nas alimárias.
Considerando que o transporte se faz agora, na esmagadora maioria dos casos em meios como o automóvel, o autocarro, metro, comboio, avião e por aí fora, já não há razão nenhuma para usar calças na maior parte dos dias. Assim, não tarda, voltar-se-á às origens e teremos centros comerciais, jardins e esplanadas repletas de varões com jilabas, túnicas, saias, minissaias, microssaias, eventualmente mesmo sem nada, nos dias de maior canícula como agora.
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