Não vou mentir:
houve um momento em que quase duvidei da capacidade de António Costa para
regenerar o País. A culpa não é minha. Sucede apenas que, de tanto se habituar
a políticos medíocres, uma pessoa sente dificuldade em distinguir a grandeza à
primeira vista. Porém, à segunda não falha.
A minha epifania
com o Dr. Costa aconteceu no dia em que li o manifesto "A Cultura apoia
António Costa", e reforçou-se no dia em que o Dr. Costa se reuniu com
"centenas de intelectuais" disposto a demolir convenções caducas. Em
situação de crise, o populista comum falaria do desemprego e prometeria
trabalho, falaria da dívida e prometeria crescimento, falaria dos pobres e
prometeria compaixão. E melhor saúde e justiça mais equitativa, e educação mais
capaz. O Dr. Costa ignorou estas palermices, foi directo ao que de facto
importa e prometeu um Ministério da Cultura. A casa, no caso o Mercado da Ribeira,
em Lisboa, veio abaixo—felizmente em sentido figurado.
Confesso que me
rendi naquele momento. Não faz sentido pensar em distribuir benesses aos pobres
ou à classe média sem antes assegurar que os intelectuais recebem a sua parte
do bolo. Nas palavras, sempre belas, da escritora Lídia Jorge, "o sector
cultural é um pulmão do corpo social", e ninguém de boa-fé deseja que
Portugal sufoque. De que serviria uma economia pujante (as pernas da sociedade)
ou o equilíbrio das contas públicas (os cotovelos) se a Cultura, com gigantesco
C, agoniza com enfisema por falta de intervenção estatal? Dito de outra
maneira, de que nos vale uma nação próspera em que a dona Lídia carece dos
estímulos necessários à respectiva obra? [...]
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Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias"
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*Doença pulmonar obstrutiva crónica
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*Doença pulmonar obstrutiva crónica
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