Em 1970, o antropólogo americano Michael Dove
decidiu ir ver como isso era feito e que resultados dava. Concluiu que não havia
qualquer lógica em tal forma de escolha e que não dava resultado nenhum—uns
anos as colheitas eram boas, outros anos não: exactamente como se não tivesse havido
nenhum critério de selecção.
Dove ficou intrigado, sem
perceber porque se mantinha aquela tradição sem nenhuma prova de utilidade dada.
Pensou anos nisso, até chegar à situação do eureca. Afinal, aquela era a forma
de resolver um problema—de consciência aliviada—sem ter critério nenhum.
Todos a usam consciente ou inconscientemente—por exemplo, quando se joga na lotaria de acordo com indicações astrológicas, ou quando se observam superstições para decidir o que quer que seja. Povos nativos do Canadá queimam a omoplata de uma ave local para ler nas rachas que se abrem no osso a direcção para onde devem partir à caça. E o povo Azande da África tira dúvidas dando veneno a uma galinha, resolvendo em função dela morrer ou não. Podia-se falar das cartas do Tarot, da moeda ao ar, do Professor Karamba e por aí fora—uma qualquer prática estúpida explica-nos porque decidimos assim e alivia-nos do peso de ter decidido mal.
Todos a usam consciente ou inconscientemente—por exemplo, quando se joga na lotaria de acordo com indicações astrológicas, ou quando se observam superstições para decidir o que quer que seja. Povos nativos do Canadá queimam a omoplata de uma ave local para ler nas rachas que se abrem no osso a direcção para onde devem partir à caça. E o povo Azande da África tira dúvidas dando veneno a uma galinha, resolvendo em função dela morrer ou não. Podia-se falar das cartas do Tarot, da moeda ao ar, do Professor Karamba e por aí fora—uma qualquer prática estúpida explica-nos porque decidimos assim e alivia-nos do peso de ter decidido mal.
A prática é tão aceitável
que há quem advogue fazer a escolha dos governantes por sorteio, semelhante à extracção
das lotarias. E antes que se troce do que digo, recordo que na democrática
Atenas muitos oficiais públicos superiores, como os nove arcontes, eram
escolhidos por sorteio entre parte significativa da população; os doges da
Veneza renascentista eram sorteados entre vários nobres; Jean-Jacques
Rousseau defendia que a lotaria devia ser norma na democracia ideal porque dava
a todo o cidadão a possibilidade de governar; e o método ainda hoje é usado na
escolha dos jurados para os tribunais e noutras nomeações públicas.
Há situações em que o resultado
das decisões é imprevisível—por exemplo, a eleição de Passos Coelho e,
consequentemente, do XVIII Governo Constitucional. Imaginem que o homem tinha
sido contemplado num processo semelhante ao Totobola. Estávamos todos lixados,
mas podíamos lavar as mãos. Assim, deu a bota que dá à tribo Kadu do Bornéu, ao
povo Azande, aos nativos do Canadá e há uns responsáveis e outros não. Por isso,
voto sempre no José Manuel Coelho porque é essa a indicação que tenho do Professor
Bambo.
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