No mundo moderno existe o culto da alimentação saudável,
o que é uma prática louvável. Somos em grande parte resultado daquilo que
comemos e todos compreendem que a dieta deve ter regras. Quais regras? Aqui
começam as dificuldades.
Quem já viveu algumas décadas, assistiu a teorias
dietéticas as mais variadas, até em confronto. Para não ir muito longe, já ouvi
um nutricionista afamado e crente dizer que, pelo pão, só tinha o respeito decorrente
do seu papel bíblico e ouço agora falar no seu precioso conteúdo de proteínas
vegetais e fibras; e também o mel já foi excelente, já foi pior que péssimo
pelo conteúdo em açúcares e foi finalmente reabilitado—até ver.
Agora fala-se muito das formas reactivas do oxigénio,
vulgarmente conhecidas por ROS ("reactive
oxygen species”); e para combater o alegado efeito cancerígeno e
degenerativo dessas espécies, as pessoas atascam-se de antioxidantes e procuram
alimentos com fama de ter o mesmo efeito, sobretudo vegetais.
As referidas espécies reactivas do oxigénio, como o
peróxido de hidrogénio, ou água oxigenada, o anião superóxido e o radical
hidroxilo, resultam do metabolismo das células na produção de energia e são
normalmente neutralizadas por antioxidantes
endógenos, também produzidos pela célula. Sempre foi assim desde que há células
e era de esperar que, se o processo estivesse errado, a evolução natural, ao
longo de milhões de anos, já o tivesse corrigido, dispensando-nos da
necessidade de beber chá verde, vinho tinto, tomar vitamina E, vitamina C, glutatião,
etc. tal e coisa.
Pois, com surpresa minha, ouço e leio agora que a
ingestão de antioxidantes pode ser contraproducente: assisto ao mesmo filme do
pão—de mero alimento bíblico a bestial—e do mel. Assim, a versão actual é que
a ingestão de antioxidantes suplementares enfraquece a capacidade de produção
dos naturais, debilitando uma função fisiológica insubstituível. E a prática
dos suplementos anti-ROS pode ser pior que o soneto, vejam lá!
Recomendo vivamente, e era aqui que queria chegar, para quem o possa fazer, a leitura
de um texto intitulado sugestivamente "Fruits and Vegetables Are Trying to Kill You",
ou seja, "Frutos e Vegetais Estão a Tentar Matá-lo". Tal e qual. Óh égua!
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