Poucas coisas teriam maior impacto psicológico na
humanidade—se há alguma—que a descoberta de vida fora da Terra. O homem
desenvolveu ao longo de séculos a ideia de Terra—ou homem—como centro do universo
e não lhe passa pela cabeça que possa ser de outra forma. Tal concepção decorre
directamente do assumir que vida significa vida inteligente—dominante na Terra—assumpção totalmente fora da realidade.
Na verdade, vivemos no planeta dos micróbios. Há um
milhão de células microbianas em cada centímetro cúbico de água do mar, dos
rios e dos lagos, na crosta terrestre e na atmosfera, e cada um de nós
transporta 100 mil biliões que levamos para o cinema, para o autocarro,
comboio, avião, para o Estádio da Luz e para a cama.
Muitos desses seres são extremamente resistentes, capazes
de suportar milhões de rads de radiação ionizante, temperaturas muito
superiores a 100 graus Celsius, ou ácidos que dissolveriam a nossa pele em segundos;
e viver em ambientes saturados de dióxido de carbono, de metano, ou de enxofre.
São os chamados extremófilos.
Em face deste panorama, não custa admitir que haja vida
num dos exoplanetas, fora do sistema solar. Dir-se-á que isso não é muito
excitante porque diz respeito apenas a mico-organismos, o que traduz falta de
perspectiva—tempos houve que o mesmo acontecia na Terra e, a partir dessa biosfera, de evolução em evolução, se desenvolveu a jóia chamada Homo sapiens, que faz a guerra e a paz, já foi
à Lua e gerou seres como o Zezito, o Passos Coelho, Portas, Jerónimo e Mário Soares, todos descendentes de extremófilos. Em termos cosmológicos, do micróbio extremófilo ao Dr. Soares é o tempo do Diabo esfregar um olho.
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