sábado, 5 de julho de 2014

Ó MAR SALGADO . . .

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É possível que algumas pessoas—por distracção, falta de tempo ou de oportunidade—não tenham lido o artigo de José António Lima sobre Ricardo Salgado no jornal "SOL" de ontem. Não pode perder-se o que ali é dito, embora se lamente não estar lá tudo, segundo parece. Mas é bastante para ficarmos esclarecidos. Servindo de pequena caixa de ressonância, aí vai:

Após mais de duas décadas a liderar o BES, nas quais acumulou um imenso poder de influência na sociedade portuguesa, Ricardo Salgado chegou ao fim do seu consulado. E quem, por estes dias, ouviu muitos dos comentadores que analisaram o significado da sua saída ou leu a sua carta de despedida até poderá ter-se convencido que Salgado se afasta por limite de idade ou como prémio de carreira a distinguir uma gestão brilhante e imaculada.
Mas não. Não foi por nada disso. O até há pouco todo-poderoso líder do BES sai por razões mais singelas e inconvenientes. Ricardo Salgado foi afastado compulsivamente da gestão do BES após uma auditoria pedida pelo Banco de Portugal ter descoberto, há cerca de seis meses, a ocultação de um ‘buraco’ de 1,3 mil milhões de euros, entres 2008 e 2013, na holding do grupo, a Espírito Santo International (ESI).
A esse facto pode juntar-se um ‘buraco’ de 5,7 mil milhões no BES Angola (BESA), banco na dependência directa e maioritária de Salgado. Ou os prejuízos de 518 milhões que o BES apresentou em 2013. Ou os 1,4 mil milhões em imparidades de crédito concedido. Ou as provisões extraordinárias de 700 milhões a que se viu obrigado. Ou os aumentos de capital em desespero de causa dos últimos meses. Ou os problemas com ‘actividades ilícitas’ do banco na Florida, em Espanha ou no Luxemburgo.
Sem esquecer os honorários pessoais de 8,5 milhões de euros que Salgado recebeu através de uma offshore, descobertos no processo Monte Branco, ou as três rectificações do seu IRS em 2013. E não é tudo. Apesar de já não ser pouco.
Prejuízos, ‘buracos’ ocultos, dívidas, irregularidades, contabilistas duvidosos, imparidades, atrasos fiscais, etc. Não há idoneidade de banqueiro que resista a esta sucessão de tropelias financeiras. E o que é preocupante para a sociedade portuguesa no seu todo é que os banqueiros mais poderosos das últimas décadas, Jardim Gonçalves e Ricardo Salgado, saíram dos seus cargos com processos e irregularidades de cortar a respiração. Que se somam aos escândalos do BPN de Oliveira Costa ou do BPP de João Rendeiro.
Salgado bem pode aplicar a si próprio a frase que, em 2009, dirigiu a Filipe Pinhal do BCP: «A lamentável comédia no seu banco pôs em causa a credibilidade do sector e do país». Comprova-se: os banqueiros portugueses são pouco recomendáveis. 
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