segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

GALILEO GALILEI

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Galileu  foi uma personagem que sempre fascinou quem lê história da Ciência. Tudo que se encontra sobre ele é laudatório, entronizando-o como figura científica superior, incompreendida na sua época, vítima de perseguição pelo obscurantismo religioso. Stephen Hawking escreveu no livro A Brief History of Time: "Galileu, mais do que qualquer outro, foi responsável pelo nascimento da ciência moderna". Pois bem — tal ideia não é consensual, cheguei hoje a essa conclusão. É Galileu um mito?  
Thony Christie, historiador da Ciência e editor do blog The Renaissance Mathematicus, pergunta, num artigo intitulado "Galileo´s Reputation is more Hyperbole than Truth": o que fez Galileu realmente e donde veio a sua imagem de super-herói? De acordo com Christie, a grande "prenda" de Galileu foi o telescópio, que ajudou a desenvolver e com o qual fez preciosas observações astronómicas.
Consciente de tal e de que isso correspondia à "taluda" na lotaria científica, apressou-se a publicar tudo que observava e mais um par de botas a partir do início de  1610. Da noite para o dia, tornou-se o mais conhecido astrónomo da Europa. Contudo, Galileu não era o único observador telescópico da época e todas as descobertas que fez foram feitas simultaneamente por outros contemporâneos na Inglaterra, Alemanha e mesmo na Itália. Tal ponto de vista não é conciliável com o do mito em que se transformou, segundo, Christie: se Galileu não tivesse usado nunca um telescópio, nada seria diferente na história da Astronomia.
E, embora a sua defesa da Teoria de Copérnico — apresentada no livro Dialogue Concerning the Two Chief World Systems (1632) — lhe tenha trazido a notoriedade do julgamento pela Inquisição e a prisão domiciliária, isso não o fez ganhar a batalha do heliocentrismo. Essa honra vai para Johannes Kepler, cujas publicações ignorou no seu livro. A contribuição de Galileu para a vitória do heliocentrismo terá sido poucochinha, como a vitória de Seguro.
Por vezes, diz-se que Galileu foi o gigante em cujos ombros Newton se apoiou; mas a sua real influência foi mínima. A elevação à santidade científica fica a dever-se, em grande parte, ao estilo brilhante da sua prosa em obras de retórica soberba e polémica, deliciosas peças lúdicas com muito melhor forma que conteúdo. Além de que eram ilustradas genialmente, com imagens da sua autoria — além de bom observador astronómico, era um apurado prosador e inspirado artista plástico.
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