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Antes de morrer, Einstein deixou manifesta a vontade de que o seu corpo fosse
imediatamente cremado após a morte e as cinzas espalhadas em local não conhecido.
Não queria um túmulo transformado em santuário. Tal vontade só parcialmente
foi respeitada. O seu amigo Otto Nathan
fez tudo certo com o cadáver, mas conseguiu que Thomas Harvey, o patologista
que autopsiou Einstein, lhe desse o cérebro do físico — cérebro que guardou em casa no frigorífico, num frasco com
formol, até 1998, quando o devolveu ao Princeton
Hospital, não sem que antes não tivesse enviado fragmentos a cientistas
interessados.
Nenhum de nós será alguma vez vítima
de roubo do cérebro; mas o estatuto de Einstein, de arquétipo do génio, explica
o relatado. A pessoa vulgar pode viver e morrer com privacidade, mas o génio,
e a sua massa cinzenta, são património da humanidade. E é do génio de Einstein
que trata esta prosa, inspirada num texto de Matthew Francis, especialista em
Física e escritor sobre temas científicos.
Além de Einstein, a história conheceu
muitos génios; mas poucos com a sua actual celebridade. Talvez porque viveu
numa época de enorme expansão da comunicação social, talvez pelo cabelo, pelo
penteado, pelas indumentárias, pelo comportamento exótico, por ser judeu,
sabe-se lá porquê.
Madame Curie ganhou por duas vezes o
Prémio Nobel e fez investigação cujos resultados foram ponto de partida para muitas outras investigações notáveis. No entanto, apesar de usar um penteado quase tão
exótico como o de Einstein (para a época!), não tem hoje metade da notoriedade dele. Talvez
porque fosse mulher — na
altura não ajudava muito —,
talvez porque fosse uma experimentalista, não uma teórica, como ele.
Era o cérebro do físico diferente? Nada
permite afirmá-lo. Estudos feitos até agora focam-se na pesquisa de diferenças morfológicas
entre ele e pessoas ditas normais. Naturalmente que têm sido encontradas
algumas; mas há erros científicos crassos em tais estudos: os investigadores
sabiam a quem pertenciam os cérebros que estudavam e, nessas circunstâncias — diz a experiência — é fácil tirar conclusões... erradas. É o viés decorrente da falta de
anonimato das amostras.
Por outro lado, Einstein não era tão
"infalível" como hoje vulgarmente se pensa. Em 1939, por exemplo, publicou um
artigo onde afirmava que os buracos negros não podiam existir. Einstein tinha
excelente intuição científica, mas também tinha "fés", "crenças",
ou "palpites" científicos. Contra os cálculos que ele próprio e
outros físicos tinham feito, mantinha um ódio de estimação aos buracos negros.
Não digeria a teoria de que, com densidade suficiente, a gravidade podia vencer
todas as outras forças, tornando o colapso inevitável.
O "fenómeno génio" é
complicado, como diria Rui Vitória. Não é uma qualidade monolítica, idêntica em
todos os casos — depende da diversidade
do homem e do seu talento. Como Einstein, já tivemos a referida Marie Curie, Niels Bohr, Erwin Schrödinger, Werner
Heisenberg, Newton e por aí fora, até ao contemporâneo Sócrates, também
conhecido por Zezito. Cada cor tem o seu paladar, à semelhança dos antigos "chupa-chupas".
Einstein é um chupa-chupa que caiu no
goto. É a vida, Guterres dixit!
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