domingo, 22 de maio de 2011

A MONOMANIA DA CONQUISTA

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Como o avarento, em cuja alma a paixão exclusiva absorveu todos os sentimentos e paixões humanas, assim na alma de Afonso Henriques a monomania da conquista, doença vulgar nos príncipes da Idade Média, atrofiara o desenvolvimento de tudo o mais. Mas, se entre os consócios de uma pátria irmã, se entre os herdeiros de uma história comum, há o amor por essa pátria e a veneração pelos antepassados, nenhum merece na alma dos portugueses respeito maior, do que o primeiro de todos aqueles a cujo braço esforçado se deve a obra da constituição politica da nação. Neste sentido as manias chegam a ser sublimes. Um salteador é, não raro, um verdadeiro herói; a perfídia é uma virtude, a crueldade é um título de glória, porque o espírito colectivo substitui o critério moral e abstracto pelo critério histórico, o qual tem como base a consagração dos factos consumados.
A separação de Portugal foi um facto consumado, graças ao valente medíocre, tenaz, brutal e pérfido carácter de Afonso Henriques.

Oliveira Martins in “História de Portugal”
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