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É incompreensível que 37 anos depois de um 25 de Abril, os mesmos governantes de sempre ainda se deslumbrem com a redescoberta do fogo, com a reinvenção da roda ou com os “mágicos” efeitos da pólvora... e que mais incompreensível seja que haja ainda governados seus (quais ruminantes cavicórneos pasmados por palácios) que se fascinem com tais assombros de pseudo-inteligência, pseudo-ousadia e de pseudograndeza. Se o Estado ganha 100 euros e gasta 150, é natural que no primeiro mês fique com uma dívida de 50 euros, no segundo mês de 100 euros e por aí adiante... e idêntica verdade, inegável e inabalável, se aplica àquela família que, quase insolvente, se continua a endividar para pagar as galopantes dívidas que instintivamente continua a contrair, convencida de que a próxima será sempre a última (da primeira de muitas). E perante tamanhas evidências optou-se candidamente pela negação da “coisa” até ao momento em que a tão badalada “troica” (não confundir com a outra, a troika puxada por três cavalos), em meia dúzia de dias e com outra meia dúzia de ligeiros traços, lhes fez um bonito desenho demonstrando a tamanha aberração desta (des)governabilidade. Depois disto e com as “orelhas de asinino” enfiadas até ao pescoço, a maralha do costume teima em assobiar para o lado, convencida que está de que ninguém vai reconhecer ninguém e que, portanto, com duas ou três larachas de ocasião [...] todos vão entrar virginalmente puros no coração da populaça [...]
António Carvalho in “Expresso” (Cartas)
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