sábado, 21 de maio de 2011

O DIREITO A TER

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Lê-se no “Expresso” que 642 mil trabalhadores de pequenas e médias empresas têm actualmente o ordenado penhorado por dívidas ao Fisco, à Segurança Social, a bancos, por falta de pagamento de prestações de créditos ao consumo, a operadores de telecomunicações, a servidores de TV por cabo, ao condomínio das suas residências, e por aí fora. A estes, correspondentes apenas a empresas filiadas na Associação Nacional das Pequenas e Médias Empresas, tem de se acrescentar os de outras empresas, pequenas, médias e grandes, não filadas, e ainda os funcionários públicos e os de empresas públicas, na ordem de muitos mais milhares. Ainda de acordo com o jornal, na empresa “Sociprime” por exemplo, metade dos 1500  trabalhadores têm actualmente parte do vencimento penhorado.
Entretanto, o Gabinete de Apoio ao Sobre-Endividado da DECO vai recebendo pedidos do Estado e privados para ensinar os empregados a gerir os orçamentos familiares.
Há dias, no local onde costumo almoçar, conversando sobre a actual crise, que afecta também a indústria da restauração, e falando da forma como as pessoas se endividam para lá dos limites das suas possibilidades, fui confrontado com este argumento: “as pessoas têm direito a ter aquilo que precisam”. Aí calei-me porque eu estava a falar de outra galáxia. Na minha galáxia, as pessoas não precisam de comprar um telemóvel novo e mais moderno de três em três meses, ou ter TV por cabo com canais codificados, ou conversar por telemóvel durante horas, ou passar as férias da Páscoa na República Dominicana, ou tomar diariamente o pequeno-almoço na leitaria, ou ler as revistas sobre o beautiful people, ou comprar anualmente roupa nova quando chega o Inverno ou o Verão, ou ter uma “Bimby”. Especialmente quando não há dinheiro para pagar o condomínio, ou o IRS.
Não sou nada novo, mas também não tenho a idade do Matusalém; e ainda me lembro do tempo, não tão distante assim, em que as pessoas não “tinham direito a ter aquilo de que precisam” que é, maioritariamente, o conjunto de pessegadas referidas atrás e similares.
Ser sensato no consumo, prescindir do que a colega do emprego tem, chegar ao miserabilismo de passar a Páscoa em casa e ter telemóvel sem GPS e ligação à Net são coisas do fascismo, do obscurantismo salazarento, do tempo em que as famílias faziam poupança. Puf!..., que atraso de vida!... Um saco!...
Estamos com o FMI, o FEEF e o BCE á perna? Não há problema! Quando não pudermos pagar-lhes, logo vamos falar com a DECO.
Somos uns alarves.
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2 comentários:

  1. É verdade, afinal precisamos de tão pouco para sermos felizes, pra quê complicar.

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  2. O marketing "dá cabo" da cabeça das pessoas; infelizmente, não só no consumo: nas opções políticas, na ética, e sobretudo na cultura. Uma lástima.

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