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Pedro Mexia é um intelectual que estimo e aprecio pela qualidade do pensamento, pela sobriedade do perfil e pelo estilo. Hoje fala no “Expresso” da beata Maria Clara do Menino Jesus, de seu nome Libânia do Carmo Galvão Mexia de Moura Telles e Albuquerque, sua familiar beatificada recentemente no Estádio do Restelo.
A respeito da santidade diz Mexia ser actualmente vista pela sociedade laica como uma excrescência medieval, embora a noção de santidade não se afaste da de “vida boa”, ou virtude cívica. Mexia não é crente, tanto quanto percebo, mas é inteligente e sensato, e sabe passar por cima do acessório para valorizar o essencial: o mérito de uma vida dedicada à missão louvável de ajudar os outros.
Mas o que queria comentar é a passagem em que se refere ao milagre nos requisitos do processo canónico de beatificação ou santificação. E diz: «julgo honestamente que a sujeição das beatificações e canonizações à prova do milagre enfraquece a ideia de santidade”. [...] O “milagre” [...] torna a santidade vivida uma santidade “incompleta”, dependente de algo mais». E acrescenta mais à frente: «O milagre propriamente dito, mesmo para quem acredita em milagres, parece um acto espalhafatoso, que acentua a dimensão sobrenatural mas que perde de vista que um santo é alguém que vive no mundo, alguém que todos nós podemos ser, através de instrumentos humanos, comuns, naturais e explicáveis».
Isto é, se bem entendo: o padrão de uma vida vale muito mais do que o episódio miraculoso, muitas vezes - talvez excessivas vezes – discutível, contestável e duvidoso; e perfeitamente dispensável. Talvez factor para desacreditar o mérito da santificação, em vez de o enaltecer. É bom começar a pensar em acabar com tal exigência do Direito Canónico, penso eu e muito boa gente.
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