sábado, 29 de setembro de 2012

OS "AFINS" E A EVOLUÇÃO CULTURAL

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A evolução biológica humana é um facto evidente que só espíritos totalmente tacanhos põem em causa—a estatura média do homem actual, ou a qualidade bipedal, resultarão do facto de estaturas diferentes, ou a menor capacidade de deslocação em dois membros, serem menos adequadas para viver no habitat da Terra, por exemplo. Um processo de selecção lento e gradual foi poupando o que tinham a melhor estatura e mais capacidade de abandonar a deslocação com os quatro membros e extinguindo os outros. É careca isto.
A tal fenómeno—o da evolução biológica—deve acrescentar-se o da evolução cultural, conceito mais recente, inovador e pouco explorado.  Há capacidades adquiridas que representaram enorme avanço da espécie—somos capazes de enfiar uma agulha e arremessar objectos, como pedras, setas e lanças, o que o chimpanzé não faz tão bem. Nem sei mesmo se o chimpanzé enfia agulhas.
Cada geração, ou conjunto de gerações, foi acrescentando capacidades culturais importantes que culminaram na nossa condição actual, muito mais aptos que chimpanzés, com seres como Cavaco, Coelho, Arménio, Jerónimo, Tozé e o Zezito. É verdade—autênticos ápices da evolução, coisa inesperada até para Darwin.
Não se trata de mutação genética, não senhor, nem, ao contrário do que Lamarck dizia, da incorporação do aprendido no genoma, embora haja hoje sinais de que por via  epigenética—muito complicado para um blog!—alguma coisa desse tipo possa acontecer. O mais simples e directo é a lenta selecção dos que absorvem facilmente avanços culturais,  como a prática dos "afins" da Senhora Doutora Cândida Almeida,  a celebração de contratos tipo PPP, as licenciaturas honoris causa e por aí fora—o fitness darwiniano na máxima e exemplar expressão.
Serve isto para dizer que Portugal não deve queixar-se, nem consumir tempo e recursos em manifestações, discursos inflamados e protestos que podem levar ao cárcere. Portugal precisa de ler Darwin porque está lá tudo—do aeroporto da Ota à ligação Poceirão-Caia. Só  não se percebe é como Darwin sabia que a Ota, o TGV e o PEC4 vinham a caminho. Todos os dias me interrogo sobre isso. Ganda Darwin!
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A fotografia em cima é de Joseph Hendrich, antropólogo, professor da Universidade de Columbia e especialista em evolução cultural—não tem nada a ver com "afins"; ou, melhor, tem porque os estuda.
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