Marcus
Chown foi escritor sobre temas científicos e um dia escreveu assim, num livro chamado
"The Magic Furnace": Para nós
vivermos, as estrelas com milhares, dezenas de milhares, centenas de milhares
de milhões de anos de existência, morreram. O ferro no nosso sangue, o cálcio
nos nossos ossos, o oxigénio que enche os nossos pulmões quando respiramos,
foram feitos nas fornalhas das estrela que expiraram muito antes da Terra
existir.
Os
poetas gostam de pensar que são pó de estrela. Os cínicos dizem que somos lixo
nuclear.
Na
realidade, os primeiros átomos foram de hidrogénio e seus isómeros, muito
simples, apenas com um protão e um electrão, eventualmente com um ou dois
neutrões. Depois veio o hélio, criado por fusão nuclear do hidrogénio no centro
das estrelas e só depois os elementos mais pesados como o carbono, o oxigénio,
o ferro, etc. A fusão do hidrogénio para formar hélio era compreendida pelos
físicos, mas o resto não. Como surgia o carbono e os outros átomos mais
pesados?
Ninguém
sabia até Hoyle, já aqui referido como defensor do universo eterno, ter tido
uma inspiração: os elementos pesados formam-se nas estrelas quando estas entram
em agonia ante mortem por falta de hidrogénio e começam a fundir os núcleos de
outros átomos, para produzir energia e sobreviver algum tempo, começando pelo
hélio e por aí fora. Depois morrem, explodem, dão origem às supernovae e os detritos
destas espalham os átomos pesados no espaço, vindo estes, depois e
eventualmente, a integrar outras estrelas recém-nascidas (o nosso
Sol é, talvez, uma estrela de terceira geração).
A
passagem do hélio, com dois protões e dois neutrões no núcleo, para o carbono,
com seis protões e seis neutrões, exige três átomos do primeiro para um átomo
de carbono. Mas do ponto de vista da Física Teórica tal fusão não pode ocorrer
como habitualmente—é precisa uma engenhoca muito complicada, adivinhada por
Hoyle, que estava errado na defesa do universo eterno, mas era um homem
inspirado, sábio, íntegro e com muito mau feitio, acrescente-se em aparte.
A
inspiração de Hoyle e a sua descoberta não cabem neste espaço. Mas foi tão
importante que o astrofísico Gamow escreveu um texto conhecido na ciência como
o Genesis, segundo Gamow. É assim, da melhor forma que consigo traduzir:
Ao
princípio, Deus criou radiação e matéria. E a matéria não tinha forma
ou
quantidade, e os nucleões corriam sem nexo nas profundezas.
E
Deus disse: "Faça-se a massa dois". E a massa dois foi feita. E Deus
viu o
deutério e que o deutério era bom.
E
Deus disse: "Faça-se a massa três". E a massa três foi feita. E Deus
viu o
tritium e que o tritium era bom.
E
Deus continuou a chamar números até aos elementos transurânio. Mas,
quando olhou a sua obra, viu que não era boa.
Na pressa de contar, esqueceu-se da massa cinco e, naturalmente, não podiam formar-se elementos mais pesados.
Na pressa de contar, esqueceu-se da massa cinco e, naturalmente, não podiam formar-se elementos mais pesados.
Deus
ficou desapontado e, primeiro, queria contrair o Universo e
começar outra vez do princípio. Mas não quis ser simples.
Sendo
todo poderoso, Deus decidiu corrigir o engano duma maneira
quase impossível.
E
Deus disse: "Faça-se Hoyle". E Hoyle foi feito. E Deus viu Hoyle
e disse-lhe
para fazer os elementos pesados da maneira que mais gostasse.
E
Hoyle decidiu fazer elementos pesados nas estrelas e espalhá-los
pela
exposão das supernovae. Mas, para assim fazer, teve de obter
a
abundância da nucleossíntese do princípio, porque Deus se
tinha
esquecido de chamar a massa cinco.
E
assim, com a ajuda de Deus, Hoyle fez elementos pesados, mas foi
tão
complicado que hoje, nem Hoyle, nem Deus, nem ninguém,
compreende
exactamente como foi feito.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário