quinta-feira, 7 de março de 2013

HISTÓRIA COM ESTILO

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[...] Três dos navios levavam os nomes dos três arcanjos [...] O nome do quarto, de 200 toneis, desconhece-se.
No fim de Junho estavam todos concluídos, prontos e fundeados no mar, em frente da Igreja de Restelo, onde os capitães velaram a noute de 7 de Julho. No dia seguinte, depois da missa, acompanhados pelo rei e por todo o povo da cidade, seguiram em procissão para a praia, cantando, com tochas nas mãos, e embarcaram.
Diz Camões que, neste momento,

... um velho de aspecto venerando,
Que ficava nas praias entre a gente,
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C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
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Oh maldito o primeiro que no mundo
Nas ondas vela pôs em seco lenho!

No peito de muitos havia, com efeito, uma condenação formal por essa teima persistente dos monarcas em sacrificar dinheiro e gente à quimera das navegações. A prudência de experiências feita, ronceira e fria, não acreditava no êxito, depois de tantas tentativas falhadas. O resultado havia de votar contra ela; mas as palavras do poeta profetizavam as consequências fúnebres dum império, que todos porém, os audazes e os prudentes, aclamaram quando Vasco da Gama voltou. Camões, assistindo já ao declinar do sol, pôde contar as fomes sofridas no mar, os temporais e os naufrágios, as peregrinações nos reinos adustos do terrível Adamastor, e o colar de esqueletos brancos estendidos ao longo dos areais das duas Áfricas—um rosário de tragédias fúnebres! Pôde também contar as ondas de protérvia e crimes, desse mar da Índia, que se estirou até à Europa para afogar Portugal em vasa.
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Oliveira Martins in "História de Portugal"
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