[...] Três dos navios levavam os nomes dos três arcanjos
[...] O nome do quarto, de 200 toneis, desconhece-se.
No fim de Junho estavam todos concluídos, prontos e fundeados
no mar, em frente da Igreja de Restelo, onde os capitães velaram a noute de 7
de Julho. No dia seguinte, depois da missa, acompanhados pelo rei e por todo o
povo da cidade, seguiram em procissão para a praia, cantando, com tochas nas
mãos, e embarcaram.
Diz Camões que, neste momento,
... um velho de aspecto venerando,
Que ficava nas praias entre a gente,
.....................................
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
......................................
Oh maldito o primeiro que no mundo
Nas ondas vela pôs em seco lenho!
Que ficava nas praias entre a gente,
.....................................
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
......................................
Oh maldito o primeiro que no mundo
Nas ondas vela pôs em seco lenho!
No peito de muitos havia, com efeito, uma condenação
formal por essa teima persistente dos monarcas em sacrificar dinheiro e gente à quimera das navegações. A prudência de
experiências feita, ronceira e fria, não acreditava no êxito, depois de tantas
tentativas falhadas. O resultado havia de votar contra ela; mas as palavras do
poeta profetizavam as consequências fúnebres dum império, que todos porém, os
audazes e os prudentes, aclamaram quando Vasco da Gama voltou. Camões,
assistindo já ao declinar do sol, pôde contar as fomes sofridas no mar, os
temporais e os naufrágios, as peregrinações nos reinos adustos do terrível
Adamastor, e o colar de esqueletos brancos estendidos ao longo dos areais das
duas Áfricas—um rosário de tragédias fúnebres! Pôde também contar as ondas de
protérvia e crimes, desse mar da Índia, que se estirou até à Europa para afogar
Portugal em vasa.
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Oliveira Martins in "História de Portugal"
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