Numa caverna há prisioneiros amarrados de pés e mãos, com
as cabeças imobilizadas de tal forma que só podem observar a parede em frente.
Por trás, uma fogueira ilumina a cena e projecta na parede as sombras deles e
dos carcereiros que circulam nas suas costas, transportando objectos variados.
O mundo, para os prisioneiros, resume-se ao que deduzem das sombras que
observam e procuram interpretar.
Certo dia, um é libertado, vê a fogueira, os carcereiros,
a parede e compreende donde vêm as
sombras e o que elas representam. Depois, tem acesso ao exterior e vê o Sol, as
árvores, mais gente, incluindo Vítor Gaspar, Passos Coelho, Tozé, Jerónimo e
fica deslumbrado, especialmente com a visão de Gaspar.
Passada a ressaca da bebedeira de conhecimento, volta à
caverna e conta tudo aos outros—não acreditam! Especialmente, não acreditam que
Gaspar possa existir, tal como é descrito—acham que o ex-companheiro está a exagerar. Não estava,
mas não interessa isso agora.
Vem isto em forma de complemento daquilo de que falava
ontem, os "cérebros na tina", que poderemos ser todos. Vemos do mundo
só aquilo que ele mostra aos nossos sentidos toscos, que interpretamos ainda mais toscamente com auto-assumida e alegada inteligência.
A história contada tem barbas, foi inventada por Platão e
ficou nos livros como "A Caverna de Platão". É das coisas mais
geniais para exemplificar a limitação da nossa capacidade de perceber o
universo. Em relação a certas matérias, ainda estamos imobilizados na caverna,
verbi gratia, como são as outras dimensões para além da três que conhecemos, se
outras existem; o que "era" antes do Big-Bang, ou se existia "antes",
antes do Big-Bang; como pode o universo expandir-se continuamente à velocidade
que o faz e até quando; que "ponto" era esse no princípio, contido numa esfera de
diâmetro zero, com toda a energia e massa do universo actual; de que
são "feitos" os quarks e
os leptões; se são feitos de "cordas" de energia, donde diabo veio
essa energia; blá, blá, blá.
Para já, tenho à minha frente o ecrã dum computador, com acesso
ao Google, ao Diário de Notícias—onde leio os discursos do Tozé—e a "O Dolicocéfalo", e é um pau!
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