domingo, 5 de maio de 2013

SOMOS CÉREBROS NUMA TINA ?

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Uma das  ideias mais inquietantes da Filosofia é a do "cérebro numa tina"; e passo a explicar tal coisa para quem não sabe. Suponhamos que é possível tirar o cérebro a um homem—ou uma mulher; a ordem não interessa—e colocá-lo numa tina com condições de nutrição para se manter vivo, como se estivesse implantado no crânio. E admitamos que as conexões nervosas são estabelecidas com um supercomputador capaz de enviar impulsos eléctricos semelhantes aos gerados pelos neurónios, dando ao cérebro em causa a ilusão de que se mantém no corpo do cidadão a quem foi retirado e que acompanha a vida deste. Ficamos em presença dum ser virtual que se sente falsamente real sem perceber que o não é. Não tem olhos, mas tem visão e acredita que os tem; não tem mãos, mas usa-as e pode sentir a dor dum traumatismo virtual; conduz o automóvel e até tem desastres; blá, blá, blá.
É caricata a situação? É inverosímil? É estúpida? É tudo isso, mas o problema é que não temos nenhuma garantia de que não somos todos, de facto, "cérebros numa tina". Isto é, a consciência que temos do universo, incluindo o tacanho espaço onde vivemos, chega aos nossos cérebros a partir de impulsos gerados nos órgãos dos sentidos, não tendo nós a mais pequena ideia se aquilo que vemos, ouvimos, cheiramos, palpamos, degustamos tem alguma coisa a ver com a realidade. E todo o nosso pensamento se desenvolve a partir desses dados e estará tanto errado quanto errados eles estiverem.
Não é necessário muito esforço para entender isto, pois há coisas que sabemos e são meio caminho andado para a compreensão. Há animais que só vêem algumas cores, outros ouvem sons que nós não ouvimos, há os que só tomam contacto com o meio através de estímulos eléctricos, como acontece com alguns peixes, e por aí fora. Naturalmente, o universo deles é diferente do nosso. Mesmo o gato lá de casa, que vê a cozinha de 10 ou 20 cm de altura acima do chão, tem "uma ideia" dela completamente diferente de si, para usar um exemplo muito simples.
Imagine agora que não existe cozinha nenhuma e toda aquela cangalhada do fogão, das panelas, do balde do lixo e por aí fora não é nada assim e está a ser enganado pela natureza e pelos seus sentidos. Imaginava que pode ser um "cérebro numa tina"? É preocupante, não? Pois fique sabendo que muito provavelmente, é assim mesmo. Em 1641, Descartes escreveu o seguinte sobre a dúvida metódica: 

Admito que um demónio poderoso e enganador usou toda a energia e saber para me enganar. Penso que o céu, o ar, a terra, as cores, as formas, os sons e todas as coisas exteriores são meras ilusões de sonhos que ele arquitectou para deturpar o meu julgamento. 

Em 1641!...
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