segunda-feira, 20 de maio de 2013

TEORIA INICIAL—TAL E QUAL

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Em 1687, Newton escreveu assim no seu livro Philosophiae naturalis principia mathematica: Espero que possamos deduzir o resto dos fenómenos da natureza—além dos fenómenos  físicos que tratava na sua obra—através do mesmo tipo de raciocínio que usamos para os princípios mecânicos. Suspeito por várias razões que todos dependem de algumas forças.
E, 20 anos mais tarde, no livro Opticks, falava em que pequenas partículas de matéria se unem por efeito de atracção muito forte, compõem partículas maiores e, muitas destas, podem compor outras maiores e por aí fora, até chegar às que participam nos fenómenos da Química. E acrescentava: Há, portanto, agentes na natureza capazes de unir partículas por efeito de forças muito fortes. Cabe à Filosofia Experimental encontrá-los.
O extraordinário é que só em 1911—224 anos após Newton—Rutherford demonstrou experimentalmente a existência do átomo e constatou que não era um corpo compacto, mas com espaço vazio, podendo ser permeado por partículas. Dois anos depois, Niels Bohr descobria que tinha um núcleo compacto de facto, à volta do qual gravitam electrões, com muito espaço entre as órbitas. Só posteriormente se soube que havia partículas subatómicas—protões, neutrões e electrões—e, mais tarde, os quarks e outros leptões—além do electrão—e forças que participam na organização do átomo e os seus responsáveis, os bosões, sendo que alguns, como o de Higgs estão em fase de identificação e outros não se encontraram ainda. Ironicamente, falta encontrar o responsável pela gravidade, a grande descoberta de Newton, célebre pela história atamancada da maçã que lhe caiu na cabeça.
Serve isto para dizer que a descida ao fundo da matéria pode explicar quase tudo. Desde logo, as reacções químicas que são condicionadas pelas leis físicas dos átomos e, a partir daí, os fenómenos biológicos, eventualmente a consciência.
Há um enorme caminho a percorrer, quando ainda é difícil fazer isso em relação a fenómenos simples, verbi gratia a fusão de dois protões para formar o núcleo do hélio—como acontece nas estrelas—quanto mais compreender fisicamente a reacção entre moléculas muito complicadas de duas proteínas, por exemplo. Neste momento, se tal fosse possível, não haveria papel ou memória de computador suficientes para caberem todos os cálculos matemáticos envolvidos no fenómeno. Mas chegaremos lá—não sabemos quando, mas chegaremos. Será a teoria final—ou melhor, a teoria inicial. Tal e qual!
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