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Em post-scriptum, no
fim da sua crónica no "Expresso", Miguel Sousa Tavares escreve o
seguinte:
2013 foi um ano
enviado pelos deuses: sete meses de chuva abundante quando necessária, seguidos
de quatro meses de sol radioso no Verão. Uma bênção para um país cuja dependência
energética do petróleo é quase total? Não: uma razão para aumentar em mais do
dobro da inflação as tarifas eléctricas para o ano que vem, pois que as
centrais da EDP facturaram menos com tanta chuva e tanto sol. Ah, mas há outra
razão também invocada: com a crise, e como devia pretender-se, o consumo de energia
desce—logo, “o mercado” exige uma
“correcção”. Lógico: quanto menos procura, mais altos têm de ser os preços, como
ensinam hoje nos MBA das mais prestigiadas Universidades.
Outro mistério,
seguramente explicável, é essa história do “défice tarifário”: como é que num país
que tem um dos mais altos custos de energia do mundo desenvolvido, ao ponto de
a própria troika se escandalizar, estamos permanentemente em défice e em dívida
para com as eléctricas?
Ah, sejam
bem-vindos ao mercado de serviços públicos essenciais, “liberalizado” e
privatizado pelo Estado!
Não há volta a
dar. As coisas são mesmo assim: protecção escandalosa do Estado a empresas,
à custa do consumidor. São os amigos? Passos Coelho disse hoje no Parlamento,
respondendo a Jerónimo de Sousa, que não tem amigos, o que lhe valeu o aparte oportuno
e com humor do líder comunista de que "Não admira". Passos Coelho
talvez não tenha, de facto, amigos. Mas tem medo, coisa ainda pior. A bazófia
abunda mas, quando é preciso ser firme com os fortes, o rabo foge para entre as
pernas. Tal e qual!
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