No recente livro de José Milhazes ("Cunhal, Brejnev
e o 25 de Abril"), cita o autor um relato de José António Saraiva—na
altura ainda a trabalhar como arquitecto, mas a fazer entrevistas para o "Expresso"—dum episódio ocorrido quando entrevistava Cunhal.
A dada altura, Saraiva perguntou, a respeito da perestroika:
"O PCP concorda com a autocrítica das autoridades soviéticas a certos
excessos praticados pelo regime comunista. Mas quando eles ocorreram, o PCP
nunca os criticou e, pelo contrário, esteve sempre ao lado do poder na URSS. Pergunto-lhe:
o PCP desconhecia o que se passava, ou sabia, mas encobriu? E, se desconhecia o
que se passava na URSS, porque a apoiava com tanta convicção?"
Cunhal terá ficado furioso, disse que os jornalistas só
lhe faziam perguntas provocatórias, que não estava disposto a isso, rebabá...,
ao que Saraiva respondeu que não era jornalista e estava apenas a fazer uma
entrevista para o "Expresso" como colaborador.
Cunhal ficou pior, saltaram-lhe os estribos das botas e
disparou: "Não é jornalista? Então não dou a entrevista! Só dou
entrevistas a jornalistas."
O episódio é exemplar. Cunhal, como homem inteligente,
sabia muito bem o lixo que era a URSS—como sabiam todos os "arrependidos"
que estavam para vir, como Pina Moura, Judas, Veiga de Oliveira, Zita Seabra e
por aí fora. Mas vivia protegido pelo "respeito" que os jornalistas
lhe tinham e assim, à mistura com sorrisos superiormente irónicos para algumas
críticas, ia levando a vidinha. Quando "encurralado", reagia mal, como
foi o caso. Tinha qualidades intelectuais, eventualmente muitas outras, mas
comprometidas com fraca missão. Merecia ter investido em melhor causa.
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Finalmente acertei no local para fazer um comentário. Boa!
ResponderEliminarEduardo Corvo.
Depois falamos. Abraços
Seja bem-vindo a bordo.
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