Existe uma serpente, chamada serpente coral, venenosa para os predadores, característica seleccionada nessa espécie
como meio de defesa contra comilões. Mas a serpente coral extinguiu-se nalguns
locais, não tendo eu conhecimento da razão da extinção, nem isso interessa agora. Interessa sim que existe outra serpente, chamada escarlate (Lampropeltis elapsoide), que não sendo venenosa, se assemelha muito com a coral para enganar os predadores—M-A-L-A-N-D-R-I-C-E!!!...
A escarlate foi seleccionada, muito
provavelmente por isso, e lá ia enganando os predadores. Mas a coral
desapareceu nalguns lugares e o que aconteceu? Aconteceu que o esquema continua a funcionar! Os
predadores ainda se borram com a ideia de comer a serpente escarlate. E como
não vêem programas da "National Geographic" na TV, não lêem jornais e
não visitam "O Dolicocéfalo", julgam que a coral ainda está viva.
O curioso é que as semelhanças da escarlate
com a coral continuaram a aumentar depois do desaparecimento desta. A natureza vai
seleccionando as mais parecidas e as semelhanças são cada vez maiores. Por outro
lado, os predadores ainda não tiveram número de gerações suficiente para
adquirirem a característica de não ter medo de uma impostora. É a biologia em
movimento pausado.
Estão a pensar que estou a meter água, a
inventar, a mentir, mas não estou. Para tirar dúvidas, fica aí em cima a imagem
da revista "Biology Letters" com o título do paper em que a história
é contada e, se clicar nessa imagem, pode ler o resumo do artigo.
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