A expansão portuguesa envolveu milhares de navios de comércio e de guerra. Saíram da Ribeira de Lisboa, da Outra Banda, do Porto, do Algarve, de Cochim, de Goa, de Malaca, do Salvador. A sua constituição e formas desiguais ficaram assinaladas na galeria dos nomes: barca, barinel, batel, bergantim, caravela, caravelão, carraca, catur, esquife, fusta, galé, galeaça, galeão, galeota, junco, nau, patacho, taforeia, urca, zavra…
A caravela, navio de vela latina e pequeno calado, constituiu a embarcação por excelência da exploração e descoberta do Atlântico. E também o navio rápido próprio para levar e trazer informações. Enquanto uma nau da carreira da Índia demorava cerca de 6 meses na viagem de ida, em 1516 a caravela de Diogo de Unhos gastou menos de 6 meses na ida e no regresso. A caravela serviu também como navio de guerra. Comboiava as pesadas naus da Índia e da América na fase final da viagem rumo à costa portuguesa. Uma caravela da Índia, na primeira metade do século XVI, podia dispor de 21 tripulantes, assim distribuídos segundo a ordem dos vencimentos: o capitão, o bombardeiro, o mestre e piloto, o carpinteiro, o calafate, o escrivão, o barbeiro, o tanoeiro e os dois homens do capitão, os quatro marinheiros e os sete grumetes. O bombardeiro ultrapassava o vencimento do piloto marcando bem o papel essencial da artilharia.
A nau, navio de carga armado, passou dos 120 tonéis (1 tonel~1 tonelada) da nau S. Gabriel de Vasco da Gama para 450 e até mil tonéis do final do século XVI. No seu bojo carregaram os portugueses para Ocidente muitas riquezas da Índia. O
valor da carga podia atingir os 3 milhões de cruzados ouro. A nau Flor de la Mar (Na Figura) em que D. Francisco de Almeida combateu na batalha de Diu haveria de morrer sepultando consigo nas águas de Samatra as gulosas riquezas colhidas por Afonso de Albuquerque na tomada de Malaca. O galeão era um vaso de guerra também usado em transporte como o galeão grande S. João que naufragou próximo do Cabo da Boa Esperança. Mais comprido, de menor calado e portanto mais veloz que a nau, dispunha de um temível poder de fogo. Por exemplo, o galeão S. Dinis, de trezentos tonéis, construído na Índia pelo governador Diogo Lopes Sequeira (1518-1521), comportava 71 peças de artilharia, a saber 21 camelos debaixo da ponte, 12 por banda, 2 por popa, 4 na tolda, 2 sobre o perpau e 4 na ponte e ainda 9 falções e 20 berços, enquanto em 1525 Cochim dispunha de 286 peças de artilharia, Goa de 188, Malaca de 1666.
A expansão marítima dos portugueses e europeus promoveu em todos os mares combates e ferozes guerras marítimas. Os seus navios levaram aos pontos mais distantes do globo o espantoso ribombar da artilharia. Esta tomava formas várias, adaptadas aos diferentes fins. Os pedreiros lançavam balas de pedra para bater obstáculos a curtas distâncias; em batalhas navais ou de sítio, os canhões atiravam balas de ferro fundido de intenso poder perfurante; e as colubrinas, de tubo comprido, batiam objectivos a maiores distâncias. Peças de arte em bronze, semeadoras da morte, receberam nomes estranhos como se os nomes aumentassem a carga da pólvora e do medo: selvagem, camelo, camelete (pedreiros); águia, serpe, espera, meia-espera (canhões); aspre, sagre, moirana, falcão, falconete, esmeril; e berços ou falcões mais pequenos.
.António Borges Coelho in "OS ARGONAUTAS PORTUGUESES E O SEU VELO DE OURO (SÉCULOS XV-XVI)", História de Portugal (UNESP)
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.(A figura da nau "Senhora de la Mar", é a fotografia duma pintura do Museu da Marinha)
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