Cavaco Silva é Presidente da República e, nessa qualidade, não digo nada menos respeitoso. Não posso. Mas é também o cidadão de Boliqueime que diz coisas nas televisões, à margem da qualidade de Presidente. Ontem decidiu quebrar a formalidade, fazer flores e espalhou-se. Na qualidade de boliqueimense asneou, prontes.
Sem qualquer justificação, resolveu entrar em pormenores sobre os seus proventos e despesas pessoais. Não estou a referir-me a isto por ter usado meias verdades. Cavaco acumula mais de uma pensão de reforma e falou apenas de uma, curiosamente a mais pequena, sonegando informação que não lhe convinha no caso. Burrice sem importância, mas ridícula. Cavaco Silva sabe que, através da declaração que entregou no Tribunal Constitucional, toda a gente conhece o que recebe, e quanto é o seu património e o de sua mulher, e não pode vir a público com habilidades destas. Deixe isso lá para a feira de Boliqueime, onde coisas de tal tipo resultam.
O que é grave é ter um lamento destes na situação de haver quase dez milhões de portugueses em situação mais difícil. Ele que devia compreender a necessidade da austeridade. Ele que diz ser muito poupado, com a colaboração da mulher, e que, embora não seja remunerado por ser Presidente, tem facilidades de transporte, comunicações, residência e por aí fora, vem dizer que encontraria dificuldades na sobrevivência do casal se não tivesse poupanças. Isto é, Cavaco e a sua consorte são grandes esbanjadores. Como conseguem “espatifar” entre cinco e dez mil euros por mês?
Custa-me dizer isto, mesmo falando apenas do boliqueimense, mas, se Cavaco não é um consumidor compulsivo, tem seguramente um vício secreto.
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