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Lisboa, 25-02-2013 (19H52)
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O que me contaram não foi nada disso. A mim, contaram-me
o seguinte: que um grupo de bons e velhos sábios, de mãos enferrujadas, rostos
cheios de rugas e pequenos olhos sorridentes, começaram a reunir-se todas as
noites para olhar a Lua, pois andavam dizendo que nos últimos cinco séculos sua
palidez tinha aumentado consideravelmente. E de tanto olharem através de seus
telescópios, os bons e velhos sábios foram assumindo um ar preocupado e seus
olhos já não sorriam mais; puseram-se, antes, melancólicos. E contaram-me ainda
que não era incomum vê-los, peripatéticos, a conversar em voz baixa enquanto
balançavam gravemente a cabeça.
É que os bons e velhos sábios haviam constatado que a Lua estava não só muito
pálida, como envolta num permanente halo de tristeza. E que mirava o Mundo com
olhos de um tal langor e dava tão fundos suspiros - ela que por milênios
mantivera a mais virginal reserva - que não havia como duvidar: a Lua estava
pura e simplesmente apaixonada. [...]Vinicius de Moraes in "O Casamento da Lua"
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